Pau D’Arco: pós-massacre tem agressão de deputado e ameaça a ativista

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Paulo Fonteles Filho registrou ameaça de morte no Pará; e, na Assembleia, presidente de Comissão de Direitos Humanos acusa deputado federal de agredi-lo

Por Izabela Sanchez

A barbárie continua (1): menos de um mês após o massacre promovido pela polícia em uma área ocupada por camponeses, no Pará, um ativista que denunciou os assassinatos tem recebido ameaças de morte e entrou para o programa de proteção de testemunhas. A chacina tirou a vida de 9 homens e 1 mulher em uma fazenda no município de Pau D’Arco, sudeste do estado, no dia 24 de maio. Foi o conflito no campo com mais mortos desde 1996.

A barbárie continua (2): na Assembleia Legislativa do Pará, o deputado estadual Carlos Bordalo (PT), presidente da Comissão de Direitos Humanos e Defesa do Consumidor, foi agredido e chamado de bandido – por um deputado federal – ao tentar apresentar um relatório sobre o massacre, ocorrido na fazenda Santa Lúcia, em terras que camponeses dizem ser griladas.

DE FONTELES A FONTELES

O ativista está inserido no programa de proteção à testemunha, mas autorizou que o nome fosse divulgado. Paulo César Fonteles de Lima Filho denuncia as violências da região, e registrou o boletim de ocorrência na Delegacia de Polícia Civil de Belém na última sexta-feira (02/06)2. Aos policiais, declarou “ter tomado conhecimento de estar sendo visado por grupos contrários”. Essas pessoas, de acordo com ele, “querem matá-lo”.

A ameaça lembra uma violência que já ocorreu na família do ativista. Ele é filho do ex-deputado estadual e advogado de posseiros no sul do Pará, Paulo Fonteles, que foi assassinado no dia 11 de junho de 1987, quando aguardava o abastecimento de um veículo na BR 316. Paulo levou três tiros de pistoleiros em um crime que tem latifundiários como suspeitos de serem os mandantes.

Deputado federal Éder Mauro parte para cima de deputado estadual.

Na Assembleia Legislativa, a tentativa de apresentar um relatório acabou em intolerância e ofensas de deputados opositores. Ex-delegado, o deputado federal Éder Mauro (PSD-PA) – que tem defendido a ação policial em Pau D’Arco – chamou o presidente da Comissão de “covarde” e “bandido”, em episódio narrado em detalhes no blog do Instituto Paulo Fonteles.

Mauro discordou do relatório e das versões apresentadas, chamando o documento de “fantasioso”. O deputado ainda foi gravado agredindo Carlos Bordalo, enquanto empurrava e xingava o parlamentar. Outras pessoas tiveram de intervir e separar os deputados.

CHACINA SERÁ INVESTIGADA PELA PF

O ataque à ocupação em Pau D’Arco ocorreu no dia 24.  É a maior matança desde o Massacre de Eldorado dos Carajás, que deixou 19 mortos em abril de 1996. Naquele conflito também houve ataque da polícia militar. No ano anterior, em Corumbiara (RO), jagunços e policiais – muitos deles, encapuzados – se aliaram no conflito contra camponeses. Resultado: dez mortes.

Segundo a Liga dos Camponeses Pobres, a mulher assassinada presidia a associação dos camponeses que lutava pela área, a Associação dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Pau D’Arco. Chamava-se Jane. A nota da LCP diz ainda que entre os mortos estavam sete camponeses de uma mesma família.

A Polícia Federal acaba de tomar a frente das investigações. De acordo com o G1, a Superintendência da Polícia Federal no Pará aguarda um despacho de Brasília para atuar nas investigações. As ações serão concentradas na delegacia da PF em Redenção. Um inquérito será aberto, com prazo de conclusão de 30 dias.

Conforme o superintendente da PF no Pará, uma equipe com peritos de outras localidades do estado será encaminhada para a área, onde farão uma simulação dos crimes, reconstituindo – na medida do possível, pois a cena do crime foi alterada – os detalhes do que aconteceu na fazenda.

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