Agente da PF, vereador em Campo Grande diz que índios “têm que apanhar”

In De Olho nos Conflitos, Povos Indígenas, Principal, Últimas

Tucano André Salineiro disse na Câmara para polícia “descer o cacete mesmo” em indígenas que protestavam por saúde; declaração foi criticada por deputados, entre eles um ruralista

“Quando tem uma interrupção dessa, tem que chegar lá o policiamento e, se não tiver conversa, tem que descer o cacete mesmo. Têm que apanhar porque eles vão revidar e aí é a hora de apanhar”, esbravejou na tribuna o vereador André Salineiro (PSDB), de Campo Grande, na terça-feira. Ele é bacharel em Direito e policial federal.

Salineiro se referia a uma manifestação de indígenas que acontecia na BR-163. O protesto, com mais de 120 integrantes de diversas etnias, era contra a troca da ONG que cuida da saúde indígena em algumas cidades do Mato Grosso do Sul.

No mesmo dia, após seis horas, os indígenas já tinham encerrado o bloqueio. O coordenador regional da Fundação Nacional do Índio (Funai), Paulo Rios, afirmou ao Midiamax que a manifestação tinha sido encerrada de maneira pacífica após uma conversa com as lideranças.

A fala desproporcional do deputado gerou reações. O deputado estadual Pedro Kemp (PT) tomou a frente: “O tempo de resolver as coisas no cacete era na época da ditadura”. Até o deputado ruralista Zé Teixeira (DEM) criticou Salineiro, vereador mais votado em 2016 com a utilização do número 190.

Tucano foi vereador mais votado com discurso policialesco. (Foto: Divulgação)

O Conselho Municipal de Direito e Defesa dos Povos Indígenas vai protocolar uma carta de repúdio e as lideranças indígenas vão pedir um direito de resposta. O presidente da Câmara Municipal, João Rocha (PSDB), disse ao G1 que ia orientar Salineiro a se retratar. O vereador se desculpou no dia seguinte, mas defendeu o uso progressivo da força em manifestações.

TENTATIVA DE CONCILIAÇÃO

Ontem, Rocha e Salineiro se reuniram com os indígenas – que foram à Câmara por causa das declarações do vereador – e se comprometeram a assinar um Termo de Cooperação Técnica com o Conselho Municipal dos Direitos e Defesa dos Povos Indígenas. “Acredito que a presença do movimento aqui hoje é um ato legítimo e democrático”, declarou Salineiro. “E parabenizo-os por isso. Vieram protestar onde devem”.

A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-MS) também repudiou as declarações do vereador. “Historicamente, no nosso estado há conflitos entre os indígenas e produtores. Então, esse tipo de discurso é delicado nesse tipo de situação de conflito histórico”, disse Rodrigo Inoye, presidente da Comissão Permanente de Assuntos Indígenas da OAB.

You may also read!

Filho de Noman, prefeito de BH, trabalha para a Chevrolet, fundadora da Stock Car

Prefeito da capital mineira, Fuad Noman (PSD) tem sido alvo de críticas pela derrubada de 63 árvores na região

Read More...

Conheça o Instituto Harpia Brasil e suas ligações com o movimento Invasão Zero

Organização ultraconservadora se lança nacionalmente com Bolsonaro e na Bahia com Dida Souza,  fundadora do Invasão Zero, presente em

Read More...

Saiba quem são os líderes ruralistas que participaram de ato pró-Bolsonaro na Paulista

Membros-chave da Frente Parlamentar da Agropecuária estiveram presentes na manifestação do domingo; entre eles estão políticos financiados por invasores

Read More...

Leave a reply:

Your email address will not be published.

Mobile Sliding Menu