FHC, o Fazendeiro – Saiba onde estão os empresários que bancaram a criação da Fundação FHC, em jantar no Palácio da Alvorada

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Emílio Odebrecht em depoimento na Lava-Jato. (Foto: Reprodução)

Jantar no Palácio da Alvorada reuniu os principais financiadores em dezembro de 2002, no fim do segundo governo Fernando Henrique; organizador foi o pecuarista Jovelino Mineiro

Por Alceu Luís Castilho

Eles eram pelo menos doze. No dia 4 de dezembro de 2002, reuniram-se 12 empresários (e um diretor) no Palácio da Alvorada, em jantar organizado pelo pecuarista – e amigo de Fernando Henrique Cardoso – Jovelino Carvalho Mineiro Filho. O motivo da reunião era para a criação do Instituto FHC, inaugurado em maio de 2004, em 2010 transformado em Fundação FHC.

Fernando Henrique e Jovelino Mineiro estavam angariando doações entre os comensais. Um deles, velho conhecido desde os anos 70, era o empreiteiro Emílio Odebrecht. O próprio Emílio contou ter contribuído para as duas campanhas de Fernando Henrique para presidente. Com caixa 1 e caixa 2: “FHC, o Fazendeiro – Denúncia de Emílio Odebrecht contra Fernando Henrique foi arquivada em um mês“.

A revista Época narrou aquele evento como “uma noite de gala”. Título: “FHC passa o chapéu”. O repórter Gerson Camarotti descreveu um jantar “regado a vinho francês Château Pavie, de Saint Émilion” – US$ 150 a garrafa. Os presentes comeram foie gras e perdizes, entre outros pratos concebidos pela chef Roberta Sudbrack.

A ideia inicial era arrecadar R$ 5 milhões. Fora o R$ 1,2 milhão que eles já haviam doado para adquirir o imóvel na Rua Formosa – 13 andares abaixo da sede da Sociedade Rural Brasileira: “FHC, o Fazendeiro – Fundação FHC fica no mesmo prédio – e não por acaso – que a Sociedade Rural Brasileira”. Mas Kati de Almeida Braga, do Icatu, achou pouco: propôs R$ 10 milhões.

Após a rabanada de frutas vermelhas, e mais de três horas de conversa entre amigos, após as 23 horas, fechou-se o pacote de doações por R$ 7 milhões. Estava garantido o futuro da Fundação FHC. E,  naqueles idos de 2002, nada foi considerado anormal.

“Fernando Henrique está tratando de seu futuro, e não de seu presente”, declarou o procurador da República (futuro procurador-geral) Rodrigo Janot. “O problema seria se o presidente tivesse chamado empresários ao Palácio da Alvorada para pedir doações em troca de favores e benefícios concedidos pelo atual governo.”

Onde foram parar aqueles empresários?

ODEBRECHT E ESPÍRITO SANTO: CORRUPÇÃO

Quinze anos depois do jantar, é possível avaliar o quanto alguns daqueles comensais continuaram, ou não, a manter algum tipo de relação com Fernando Henrique Cardoso ou com Jovelino Mineiro. Diante do perfil deste observatório, iniciaremos com aqueles que tenham conexão mais direta com o agronegócio – e com os temas desta série de reportagens.

FHC e Marcelo Odebrecht em jantar para Aécio, em 2014. (Foto: Reprodução)

1) Emílio Odebrecht. Ele é um dos personagens centrais desta série de reportagens. A maioria dos 27textos traz alguma menção ao patriarca ou a algum dos filhos, como Marcelo e Maurício Odebrecht. Mas vale destacar sua sociedade com Jovelino Mineiro: “FHC, o Fazendeiro – Sócios em empresa, Emílio Odebrecht e Jovelino Mineiro já foram representados em assembleia pelo advogado de FHC”. Confira também texto específico sobre a face agropecuária da empresa, principalmente nas empresas Atvos, a antiga Odebrecht Agroindustrial, e OEA: “FHC, o Fazendeiro – Propriedades rurais da família Odebrecht se estendem por São Paulo, Minas, Goiás, Mato Grosso do Sul e Bahia“.

2) Pedro Piva (Klabin). A Klabin é uma das maiores empresas de celulose do país. Piva morreu no ano passado. Mas os acionistas Horácio Lafer Piva e Celso Lafer fazem parte da Fundação FHC: eles estão entre os 12 membros não-vitalícios, assim como Jovelino Mineiro. Fernando Henrique é, desde 2009, membro do Conselho de Curadores da Fundação Emma Klabin. Em 2001, antes do jantar no Alvorada, portanto, FHC e Ruth se hospedaram no Refúgio Ecológico Caiman, de Roberto Klabin, no Mato Grosso do Sul.

3) Ricardo Espírito Santo (Grupo Espírito Santo). Ricardo foi preso. O grupo faliu. Antes, os portugueses foram sócios de Jovelino Mineiro, o organizador do jantar, numa empresa agropecuária. Confira texto sobre a conexão do grupo com Botucatu, onde os filhos de FHC têm fazendas: “FHC, o Fazendeiro – Antes de falir, Grupo Espírito Santo aliou-se a Jovelino Mineiro em Botucatu”.

Lázaro Brandão homenageado pela Sociedade Rural Brasileira. (Foto: SRB)

4) Lázaro Brandão (Bradesco). O Grupo Espírito Santo esteve entre os principais acionistas do banco, antes de quebrar. Em 2013, a Sociedade Rural Brasileira – que fica no mesmo prédio da Fundação FHC, por escolha de Jovelino Mineiro – homenageou Lázaro, então com 94 anos. Os maiores bancos brasileiros continuam tendo lucros bilionários.

5) Márcio Cypriano (Bradesco). O presidente do Bradesco, na época, abandonou o banco em 2010 para se tornar um investidor do agronegócio. É um dos amigos e conselheiros de Marcos Molina, dono do gigante frigorífico Marfrig.

LUIZ NASCIMENTO VIROU DELATOR DA LAVA-JATO

6) David Feffer (Suzano). Um dos quatro controladores da gigante do setor de celulose. Uma das sócias da empresa foi casada com Bob Civita, filho de Richard Civita (Abril), casado com a cunhada de Jovelino Mineiro. Em 2003, Feffer inaugurou nova sede do Centro de Cultura Judaica (hoje Unibes Cultural) com a presença do presidente de honra, FHC. Em 2008, o ex-presidente esteve no casamento de Adriana Feffer, filha de David, com André Skaf – filho do eterno presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

7) Antônio Ermírio de Moraes (Grupo Votorantim). Morreu em 2014. Fernando Henrique esteve na missa de sétimo dia. A Votorantim Celulose e Papel uniu-se em 2009 com a Aracruz Celulose para fundar a Fibria, líder mundial no setor.

Latifúndio da Camargo vendido para a JBS (Foto: Reprodução)

8) Luiz Nascimento (Camargo Corrêa). Genro do fundador da empreiteira, Sebastião Camargo, ele presidia a empresa na época. Em 2018, tornou-se um dos delatores da Operação Lava-Jato. Um ex-diretor da Transpetro, Sergio Machado, disse em delação premiada que recebeu R$ 350 mil de Nascimento em dinheiro vivo, em 1998 – destinado ao PSDB. O grupo Camargo Corrêa também tem empresas agropecuárias.

STEINBRUCH FOI CITADO NO SWISSLEAKS

9) Jorge Gerdau. O bilionário dono do Grupo Gerdau adora hipismo e cria cavalos. Em março o STF rejeitou denúncia contra ele e o senador Romero Jucá (MDB-RR). Foi ativo no movimento pelo impeachment de Dilma Rousseff.

10) Olavo Setúbal (Itaú). Morreu em 2008. O delator Pedro Corrêa disse que ele financiou a reeleição de Fernando Henrique Cardoso. O Itaú fundiu-se com o Unibanco em 2008 e se tornou o maior banco privado do país.

11) Kati Almeida Braga (Icatu). O banco se especializou em seguros. Ela tem forte atuação na área cultural.

12) Benjamin Steinbruch (CSN). O fundador do grupo Vicunha é amigo de Paulo Henrique Cardoso. Sete dos Steinbruch possuíam, em 2015, a soma de US$ 544 milhões no HSBC suíço, conforme revelou o SwissLeaks. Filiado ao PP, é cotado para ser o vice de Ciro Gomes, presidenciável do PDT.

LEIA A SÉRIE COMPLETA:
“FHC, o Fazendeiro – tudo sobre as terras da família, os amigos pecuaristas e a Odebrecht”.

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