Acusados de grilagem, propinas e uso de verbas públicas, ruralistas de Roraima se unem na eleição

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Romero Jucá, do MDB, Shéridan e Anchieta, do PSDB, procuram manter poder no Senado, Câmara e governo estadual, enquanto eles e seus aliados respondem por crimes

Por Luís Indriunas

De um lado, uma dupla acusada de grilagem, uso da máquina pública para interesses próprios. Do outro, um velho político acusado de receber propina em vários momentos de sua carreira, além de compra de votos no Congresso Nacional. O presidente do MDB, Romero Jucá, o candidato a governador, José de Anchieta Júnior, e sua ex-esposa Shéridan, ambos do PSDB, garantiram uma coligação que reforça uma série de interesses ruralistas no estado de Roraima.

Shéridan e Jucá, por exemplo, foram fortes apoiadores da lei 13.465/2017, que abriu portas para a regularização de terras griladas. Prática que ela e Anchieta são acusados de adotar. Em 2009, o casal comprou um terreno de 1,1 milhão metros quadrados próximo de Boa Vista, por R$ 25 mil, segundo investigações da Polícia Federal. Suspeita-se que o vendedor era um laranja. Nessa área, eles construíram uma mansão, com piscina em formato de jota, em homenagem a José de Anchieta Júnior. Nenhum dos dois declarou o bem ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Anchieta tenta voltar ao Palácio Senador Hélio Campos, sede do governo estadual. Ele também é acusado de distribuir para juízes, empresários e políticos vários títulos irregulares de terra, quando administrava o estado entre 2006 e 2010, por meio do Instituto de Terras de Roraima (Iteraima). A Polícia Federal fez uma operação em 2015, continuando a investigação. Cerca de 60 mil hectares teriam sido titulados irregularmente no Estado.

O casal é também acusado de uso da máquina pública em benefício próprio. Em 2017, a Justiça bloqueou R$ 40 mil das contas de ambos, por terem utilizado o avião do governo, em 2010, para levar a Boa Vista o MC Sapão, que fez um show especial em comemoração aos 26 anos de Shéridan. Ela era secretária de Promoção Humana e Desenvolvimento. A deputada está sendo investigada por nomear a babá de seu filho e outra empregada doméstica como secretárias de gabinete com salários que somam R$ 15 mil.

Abel Galinha, fazendeiro e dono de postos de gasolina. (Foto: Facebook)

Shéridan também gastou verba parlamentar para ajudar nos negócios do seu colega de Câmara Abel Galinha (DEM), hoje candidato a vice na chapa de Anchieta, um defensor da construção de hidrelétricas em terras indígenas. A deputada gastou R$ 50 mil da sua verba parlamentar em 2017 abastecendo nos postos do deputado, em Roraima.

A atuação parlamentar de Shéridan é voltada para o agronegócio. Ela foi relatora do projeto de lei que queria autorizar a pastagem de animais em áreas de reserva legal. No âmbito estadual, a deputada é uma defensora do fechamento das fronteiras aos venezuelanos assim como seu ex-marido e o colega de chapa, Romero Jucá.

O senador, numa jogada de marketing eleitoral, decidiu sair da liderança do governo, dizendo não concordar com a atitude do governo federal, que se nega a atender o pedido dos políticos de Roraima.

JUCÁ COLECIONA DENÚNCIAS ARQUIVADAS

As ligações dele com o governo Temer, porém, continuam vivas. As conversas de Jucá com o ex-diretor da Transpetro Sergio Machado combinando uma forma de “estancar a sangria” das investigações da Lava Jato, “com Supremo, com tudo”, não surtiram efeito jurídico para o parlamentar.

O senador continua necessitando de foro privilegiado. Ele é réu em ação no Supremo Tribunal Federal (STF), acusado de receber propina da Odebrecht durante a campanha do filho Rodrigo Jucá para vice-governador. Rodrigo é réu na mesma ação, mas o ministro Marco Aurélio Mello enviou o processo para a Justiça Federal.

Para outras acusações contra Jucá, a sangria estancou. Em delação, o executivo da J&F Ricardo Saud apontava o pagamento de propina pelo grupo ao senador. Jucá acabou não sendo denunciado, por falta de provas. O mesmo argumento o tirou da ação da Operação Zelotes, que apontava um esquema de venda de emendas a medidas provisórias.

Em 2014, o senador teria recebido, junto com os colegas Edison Lobão (MDB-MA) e Renan Calheiros (MDB-AL), propinas no valor de R$ 1,5 milhão da construtora UTC, vencedora de licitação da retomada das obras da usina nuclear Angra 3. No STF, um inquérito corre sobre o assunto, mas o Tribunal de Contas da União (TCU) decidiu arquivar a investigação interna que apontava irregularidades.

O histórico de denúncias arquivadas contra o senador é antigo. Em 2005, ele foi acusado de pegar empréstimos – e não pagar – para a empresa Frangonorte, da qual era sócio, junto ao Banco da Amazônia. O caso prescreveu, só ficando a dívida.

PARA OS YANOMAMI, ELE É O PIOR INIMIGO

Durante o tempo em que foi presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), o senador colecionou suspeitas de irregularidades, como a liberação da entrada de madeireiras em terras indígenas e a venda de madeira aprendida para madeireiras infratoras em troca de benfeitorias nas aldeias. Com ele o órgão passou de 3.200 para 4.600 funcionários apenas nos primeiros cinco meses de gestão.

Pecuarista Édio Lopes é aliado de Jucá. (Foto: Facebook)

Jucá também diminuiu o tamanho das terras dos Yanomami e permitiu a entrada de garimpeiros na área. Por isso, para a etnia, ele é considerado o maior inimigo dos povos indígenas no Brasil. Dono de empresas de mineração, em nome da família, o senador continua defendendo a exploração de minério em terras indígenas.

Na Câmara, o senador conta com um forte aliado, o deputado federal e candidato à reeleição Édio Lopes (PR), autor do projeto que garantiria essa exploração. Como Shéridan, Abel Galinha e Jucá, ele integra a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA). Enquanto tenta a reeleição, responde como réu por contratação de funcionários fantasmas.

Pelo que declara ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Jucá está empobrecendo. Em 2010, seu patrimônio era de R$ 607.901,41, o que incluía R$ 545 mil em espécie e um terreno na praia. Em 2018, declarou R$ 194.802,49. O terreno na praia não está mais no seu nome. E o dinheiro em espécie caiu para R$ 150 mil. Em compensação, seu filho teve o patrimônio inchado de R$ 3,6 milhões, em 2010, para R$ 4,5 milhões, em 2014, e conta com duas propriedades rurais.

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