Condenado por morte de auditores fiscais em Minas, “rei do feijão” deve R$ 8 milhões à União

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Protesto contra impunidade. (Foto: Reprodução)

Norberto Mânica é mandante confesso do homicídio de um dos quatro funcionários do Ministério do Trabalho, em crime que ficou conhecido em 2004 como “chacina de Unaí”; Ministério Público de Minas promove operação para recuperar R$ 1,5 bilhão em impostos sonegados no setor 

Por Priscilla Arroyo

O empresário Norberto Mânica, conhecido como “rei do feijão”, deve R$ 8,1 milhões à Receita Federal, de acordo com levantamento feito pelo De Olho nos Ruralistas para a série De Olho nas Dívidas. Dono da empresa Agropecuaria Ivae, ele pertence a uma família de fazendeiros dedicados à produção de grãos em Unaí, noroeste de Minas Gerais. O município é o principal produtor de feijão do país. 

Norberto Mânica, o “rei do feijão”. (Imagem: Reprodução/GloboNews)

Irmão de Norberto, o fazendeiro Antério Mânica (2005-2013), ex-prefeito de Unaí, declarou à Justiça Eleitoral em 2008 ter uma fortuna de R$ 19,2 milhões, além de quarenta áreas rurais na sua lista de bens. 

Os irmãos Antério e Norberto ficaram nacionalmente conhecidos quando foram acusados, em 2004, pelo Ministério Público Federal, de serem mandantes do assassinato de três auditores fiscais do Ministério do Trabalho que investigavam denúncias de trabalho escravo na região. Nélson José da Silva, João Batista Soares Lage e Eratóstenes de Almeida Gonçalves e o motorista Aílton Pereira foram mortos a tiros por quatro pistoleiros em uma emboscada no dia 28 de janeiro de 2004. 

Os empresários foram condenados em 2015, em primeira instância, a cem anos de prisão, acusados de serem os mandantes das mortes. Em novembro de 2018, quase 15 anos depois do crime, o caso teve uma reviravolta. Norberto Mânica assumiu ser o único mandante do assassinato do auditor fiscal Nelson José da Silva, um dos quatro mortos na chacina, e alegou que os pistoleiros “acabaram” matando as demais vítimas. Diante dos fatos, a Justiça Federal anulou o julgamento de Antério e reduziu a pena de Norberto a 65 anos de reclusão. 

Norberto entrou com recurso na segunda instância e aguarda a decisão em liberdade. Ele é considerado o “rei do feijão” em Unaí. Seu irmão, Antério, que deve ser julgado novamente ainda este ano, não descarta voltar para o cenário político nas próximas eleições. Os pistoleiros que executaram o crime – Rogério Alan Rocha Rios, Erinaldo de Vasconcelos Silva e William Gomes de Miranda – foram condenados, em 2013, a penas que somam 226 anos de prisão. 

OPERAÇÃO INVESTIGA ESQUEMA BILIONÁRIO DE SONEGAÇÃO

O município de Unaí é um dos 137 municípios que estão sendo investigados por fraude fiscal pelo Ministério Público em conjunto com a Secretaria da Fazenda de Minas. Os órgãos divulgaram na semana passada que ao menos 487 produtores rurais de 13 estados e do Distrito Federal estão envolvidos em um esquema de sonegação de impostos com o uso de laranjas; 320 são de Minas.

A ação tem como objetivo recuperar R$ 1,5 bilhão sonegado do tributo estadual ICMS. Nessa primeira fase, objetivo é reaver R$ 400 milhões, dos quais foram recuperados R$ 18 milhões até esta quarta-feira (26). As suspeitas de fraude motivaram a abertura da Operação Ceres, pelo MP de Minas Gerais, em novembro. A operação, cujo nome se refere à deusa romana das plantas e dos cereais, já prendeu nove pessoas nos municípios de Unaí, Contagem e Belo Horizonte. Eles são acusados de sonegar R$ 250 milhões.

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