Novo ministro das Comunicações administra Rádio Agreste, no interior do Rio Grande do Norte

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Bolsonaro, o ministro Fábio Faria e seu sogro Silvio Santos. (Foto: Reprodução)

Genro de Silvio Santos, dono do SBT, Fábio Faria é filho do ex-governador Robinson Faria, principal dono da emissora e sócio também da Rádio Redenção, em Nova Cruz, municípios na região do semiárido potiguar; ele comandará pasta responsável por concessões

Por Alceu Luís Castilho

O novo ministro das Comunicações, Fábio Salustino Mesquita de Faria (PSD), tinha 20 anos — alguns anos antes de ser eleito, pela primeira vez, deputado federal — quando foi fundada, em 1997, a Agreste Comunicações Ltda, em Nova Cruz (RN). Ela tem como sócio-administrador o ex-governador Robinson Faria, igualmente do PSD. Seu pai.

Os outros sócios são o advogado Fernando Pithon Dantas, secretário particular de Robinson durante sua passagem pelo governo estadual, e Cid Arruda Câmara, um aliado de Fábio Faria que foi prefeito do município, no semiárido potiguar.

Dono de um patrimônio de R$ 10,59 milhões em 2018, Robinson Faria declarou à Justiça Eleitoral, naquele ano, possuir 95% do capital da Rádio Agreste Ltda, no município vizinho de Santo Antônio. Essa foi fundada quando seu primogênito, Fábio, tinha apenas 10 anos.

Corria o ano de 1988 e a Constituição estava para ser promulgada. Hoje, o novo responsável por comandar as concessões de TV e rádio no país é não apenas um dos sócios da empresa, mas seu sócio-administrador.

Os dados constam da base de dados das empresas na Receita Federal. Mas não da declaração de bens entregue pelo novo ministro à Justiça Eleitoal, em 2018.

SILVIO SANTOS FOI AMIGO DE DITADORES E COMPROU TERRAS

O coronelismo une a lógica dos votos ao poder das antenas, mas também ao do arame farpado: o pai de Fábio Faria é proprietário de várias fazendas no Rio Grande do Norte. Um tanto mais acanhadas que as do sogro: amigo de cada um dos ditadores desde Emílio Garrastazú Medici, Silvio Santos manteve, durante a ditadura de 1964 e por alguns após após o fim do regime, vastas extensões de terras no Mato Grosso: “Silvio Santos obteve 70 mil hectares no Araguaia em 1972, durante governo Médici“.

Silvio Santos com Figueiredo, no dia da concessão da TVS, hoje SBT. (Foto: SBT)

Fábio Faria ganha o ministério de Bolsonaro a partir do poder do PSD, necessário para compor a nova base de apoio do presidente sem partido. O partido comandado nacionalmente por Gilberto Kassab e no Rio Grande do Norte por Robinson Faria é um dos filhos indiretos da Arena.

A sigla dava sustentação à ditadura elogiada pelo presidente de extrema-direita, um defensor explícito da tortura e de outros crimes praticados naquele período. Ao se aproximar de Bolsonaro, Fábio Faria repete a estratégia do sogro. Ele é casado com Patrícia Abravanel, segunda filha de Silvio Santos e de Íris Abravanel.

O dono do SBT é, por sua vez, um apoiador do governo Bolsonaro. A ponto de, no dia 23 de maio, não ter deixado ir ao ar o Jornal do SBT para não ter de repercutir um vídeo que não era benéfico ao presidente, aquele da reunião ministerial em abril.

PAI E FILHO MULTIPLICARAM BENS NA POLÍTICA

O ex-governador Robinson Faria honra a tradição coronelista da política potiguar. Derrotado nas eleições de 2018, declarou naquele ano possuir catorze propriedades rurais. Ele também informou possuir a empresa Cial S/A Com. e Ind de Alimentos, fundada em 1966 e herdada de sua mãe, a avó do novo ministro. Mas já liquidada. Além disso, declarou 330 bovinos. Por R$ 1 mil cada cabeça.

Ex-governador é sócio da rádio e apresentador. (Imagem: Reprodução)

Seu patrimônio em 1998, que era de R$ 697 mil, deu um salto significativo, para os atuais R$ 10,59 milhões. Quinze vezes maior. O patrimônio de Fábio Faria teve um salto bem maior: de R$ 260 mil, em 2006, eleito pela primeira vez deputado federal, até os R$ 6,5 milhões da última reeleição, em 2018. Vinte e cinco vezes maior.

Ao longo das eleições o patrimônio de Robinson Faria foi evoluindo de forma irregular: passou de R$ 697 mil, em 1998, para R$ 994 mil em 2002, depois R$ 3,54 milhões em 2006. Em 2010, quando foi eleito vice-governador, não mudou muito: R$ 3,71 milhões. Depois, sim: ao se eleger governador, em 2014, o valor havia saltado para R$ 8,33 milhões.

Em março o político estreou um programa em sua Rádio Agreste, intitulado “Política e tudo mais“.

Alceu Luís Castilho é diretor de redação do De Olho nos Ruralistas |

Foto principal (Reprodução/Facebook): Bolsonaro, Fábio Faria e o sogro do ministro, Silvio Santos

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