Fora do governo após fraude no currículo, Decotelli seria mais um nome ligado a ruralistas

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Ministro-relâmpago da Educação corrigiu seu currículo Lattes na segunda-feira, mas outras informações foram contestadas hoje; ele é sócio de um dos vice-presidentes da Sociedade Nacional de Agricultura, Hélio Guedes Sirimarco, em empresa de cursos

Por Leonardo Fuhrmann

Agora ex-ministro da Educação, Carlos Alberto Decotelli da Silva seria mais um nome ligado ao agronegócio a conseguir um cargo de destaque dentro do governo de Jair Bolsonaro. Ele é sócio de um dos vice-presidentes da Sociedade Nacional de Agricultura, Hélio Guedes Sirimarco, na Intermercados – Treinamento e Desenvolvimento Profissional e Gerencial. Eles dividem a participação na empresa, que existe desde 2002, com dois professores da Universidade Federal Fluminense (UFF), um da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e um investidor de São Paulo. A sede fica em Copacabana, no Rio de Janeiro, a menos de uma quadra da praia.

Hélio Sirimarco: porta-voz recorrente da SNA. (Imagem: Reprodução)

Sirimarco é um economista com carreira acadêmica discreta, mais conhecido pela defesa dos interesses dos ruralistas. Seja em cargos que ocupou como representante do setor ou nas muitas entrevistas que concede à imprensa como dirigente da centenária SNA, sua atuação é de um porta-voz.

Em janeiro ele foi nomeado para um mandato no Conselho Nacional de Política Agrícola, como representante da SNA. Não é a primeira vez que ele ocupa postos nesses conselhos.

Assim como o sócio, Decotelli é um ruralista beira-mar. Ele é um dos autores do livro Gestão de Riscos no Agronegócio, lançado pela editora da Fundação Getúlio Vargas (FGV). A predileção pelo agronegócio também aparece no tema de uma de suas pesquisas citadas no currículo: Sustentabilidade e Produtividade na Automação de Máquinas Agrícolas.

Decotelli e Sirimarco também têm em comum a rápida adesão a Bolsonaro. O vice-presidente da SNA estava entre os representantes da organização que receberam com entusiasmo, em junho de 2018, o então pré-candidato e deputado federal Jair Bolsonaro. Decotelli fez parte da equipe de transição e foi nomeado no início do governo para a presidência do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação.

É improvável que sua atuação no cargo o tenha qualificado para alçar cargos maiores na área pública. Um levantamento do site Metrópoles mostrou que, em 169 dias no cargo, ele esteve ausente, em viagens, em 38 deles. Decotelli deixou o cargo dias após ter chancelado uma licitação que foi cancelada pela Controladoria Geral da União por indícios de fraude. Estava prevista a compra, por exemplo, de 117 notebooks por aluno para uma escola no interior de Minas.

Mas não foi apenas essa relação que abriu caminho para Decotelli no Ministério. Além dos ruralistas, militares e representantes do mercado financeiro fizeram parte do tripé de apoio à sua nomeação. Com atuação dentro da Marinha, ele tinha o apoio de militares do primeiro escalão do governo. Durante o anúncio de sua nomeação, Bolsonaro estava acompanhado do ministro da Economia, Paulo Guedes.

ATÉ EMPRESA DO AGRONEGÓCIO NEGOU TER APOIADO PESQUISA

Apesar das relações com os militares, ruralistas, o mercado financeiro e os interesses privatistas, a nomeação de Decotelli parecia uma trégua depois das polêmicas provocadas pelos antecessores no Ministério da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez e Abraham Weintraub. Logo nas primeiras declarações, ele fez questão de se apresentar como um técnico, em contraposição às bravatas da dupla de ministros anteriores, seguidores do autointitulado filósofo Olavo de Carvalho.

Ministro se diz especialista em gestão de riscos. (Imagem: Reprodução)

O currículo “técnico” logo veio abaixo. O primeiro desmentido veio do reitor da Universidade Nacional de Rosário, na Argentina, que negou que ele tivesse concluído o doutorado na instituição. Sua tese não foi aprovada. Em seguida, a Universidade de Wuppertal, na Alemanha negou que Decotelli tenha feito um pós-doutorado lá, mas apenas passado uma temporada de pesquisa. Uma análise da sua tese de mestrado, na FGV, apontou suspeitas de plágio, com boa parte do texto tendo sido copiada de outras fontes sem qualquer citação ou crédito.

Na segunda-feira, Decotelli mantinha a esperança de ser mantido no cargo. Ele chegou a se reunir com Bolsonaro e fez alterações no seu currículo na Plataforma Lattes, site que reúne a produção acadêmica de pesquisadores brasileiros ou que desenvolveram trabalhos no país. A recauchutagem não foi suficiente para cobrir os problemas no currículo do agora ex-ministro. Hoje, mais dois desmentidos: a FGV informou que Decotelli nunca foi professor efetivo da instituição e uma professora de Wuppertal negou que a Krone, empresa alemã de tecnologia agropecuária, tivesse apoiado a pesquisa dele na Alemanha, como estava escrito.

As “inadequações”, como se referiu o presidente Bolsonaro às informações falsas no currículo do então ministro, tornaram a situação insustentável. Na tarde desta terça-feira, ele apresentou seu pedido de demissão.

| Leonardo Fuhrmann é repórter do De Olho nos Ruralistas|

Imagem principal (Marcos Corrêa/PR): aquele que foi sem nunca ter sido

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