Pará lidera morte de quilombolas por Covid-19 nos estados e é 3º entre indígenas

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Estado já teve 89 mortes nas etnias durante pandemia e 46 mortes em quilombos; isso significa 13% do total de mil óbitos nessas populações; no ranking geral de vítimas brasileiras do novo coronavírus, paraenses aparecem apenas em sétimo lugar 

Por Márcia Maria Cruz

A marca de mil mortes entre indígenas e quilombolas no Brasil foi atingida nesta quarta-feira (30/09), conforme revelou ontem o De Olho nos Ruralistas. Os dados da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), em parceria com o Instituto Socioambiental (ISA), mostram que o Pará destaca-se no ranking dos estados com maior incidência no caso das duas populações: o primeiro lugar, no caso dos quilombos, e o terceiro lugar, no caso dos povos indígenas.

O estado ocupa a sétima colocação em mortes por Covid-19 quando se observa a doença na população brasileira como um todo, atrás de São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco, Ceará, Minas Gerais e Bahia. A disparidade em relação às populações indígena e quilombola se explica por dois motivos simultâneos. O primeiro, a incidência desses povos no Pará. O segundo, o fato de que a região Norte não conta com políticas públicas efetivas de combate à doença, cujas taxas de mortalidade são ainda maiores entre os povos originários e tradicionais.

De acordo com boletim divulgado pela Conaq no dia 24, foram confirmadas 46 mortes de quilombolas no Pará. O Estado supera o Rio de Janeiro (38 mortes), Amapá (24), Pernambuco (9) e Goiás (8). Entre os povos indígenas, de acordo com boletim divulgado no dia 27 pela plataforma Emergência Indígena, o estado tem 89 mortes, atrás somente do Amazonas (201) e do Mato Grosso (135). Na sequência, aparecem Roraima (84), Mato Grosso do Sul (80) e Maranhão (68).

REPORTAGEM MOSTRA AS FACES DE 21 VÍTIMAS INDÍGENAS NO PARÁ

O Brasil ultrapassou ontem a marca de mil mortes entre indígenas e quilombolas, somadas as mortes entre os povos originários e os moradores de quilombos. São 166 mortes em quilombos ao todo, com 4.590 casos confirmados. Entre os povos indígenas, são 34.178 casos confirmados, atingindo 158 etnias.

Entre os 835 indígenas mortos no país estão vários anciões, como mostrou o De Olho nos Ruralistas: “Estas são as faces de 100 indígenas mortos por Covid-19 no Brasil“. O leitor pode acessar na página Cem Faces Indígenas a história de 21 entre as 89 mortes entre etnias no Pará.

Ponakatu Assurini, de 73 anos, foi a primeira de seu povo a morrer em decorrência da pandemia, após esperar por dias uma vaga em UTI. Três dias depois, na mesma Terra Indígena Trocará, os Assurini tiveram mais perdas: o marido de Ponakatu, o cacique Puraké Assurini, 83 anos, a irmã dele, Iranoa Assurini, de 64 anos, e o ancião Sakamirame Assurini, de 90 anos.

As mortes em quilombos e aldeias evidenciam a ausência de políticas públicas. Tanto as comunidades quilombolas como as indígenas passam por dificuldades históricas, como a dificuldade de acesso à saúde. Com a pandemia, tiveram de prevenir por conta própria a doença, com a criação de barreiras sanitárias para impedir a circulação de pessoas externas às comunidades.

O mestre em sustentabilidade Raimundo Magno Nascimento, quilombola da comunidade África, em Moju, no Pará, conta que, na Amazônia, as comunidades quilombolas já vivem situação de vulnerabilidade e a Covid-19 veio para acirrar aquilo que não era bom. “Maioria das comunidades não tem postos de saúde”, afirma. “Tem comunidade que para chegar em uma cidade que tenha suporte, você leva de 24 a 48 horas”.

Márcia Maria Cruz é jornalista. |

Foto principal (Arquivo Pessoal): quilombolas fazem barreira em Cachoeira do Piriá, no Pará

|| A cobertura do De Olho nos Ruralistas sobre o impacto da pandemia nas comunidades quilombolas tem o apoio da Fundo de Auxílio Emergencial ao Jornalismo da Google News Initiative ||

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