Frigorífico Goiás, de Gusttavo Lima, é condenado a indenizar trabalhadora em R$ 26 mil

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Cantor é sócio de Leandro da Nóbrega no negócio, que tem o apoio de famosos; funcionária contou que falta de equipamentos adequados causou série de acidentes; ela ganhava por mês valor inferior ao quilo da “Picanha Mito”, vendida em homenagem a Bolsonaro

Por Mariana Franco Ramos

O Frigorífico Goiás, do cantor sertanejo Gusttavo Lima, foi condenado a indenizar em R$ 26,3 mil uma ex-funcionária que teve seus direitos trabalhistas violados. O “embaixador do agronegócio”, como ele já se apresentou várias vezes, divide a sociedade do empreendimento com o empresário Leandro Batista da Nóbrega, citado nominalmente na ação.
Funcionária mostra mãos cortadas em açougue. (Foto: Reprodução)

Contratada em maio de 2020 para o cargo de auxiliar de açougue, mediante salário de R$ 1.500, a mulher recebia R$ 1.110,31 em carteira e o restante por fora, numa espécie de caixa dois. Para se ter uma ideia, o valor mensal é inferior a um quilo da “Picanha Mito“, criada em homenagem a Jair Bolsonaro e comercializada no ano passado a R$ 1.799,99.

A funcionária também relata que a empresa não fornecia equipamentos de segurança adequados, como luvas, e que, por isso, sofreu uma série de pequenos acidentes, cortando seus dedos. O vínculo empregatício durou seis meses.

Ainda segundo ela, o expediente começava às 7h30 e se encerrava às 20h30, de segunda a sábado, e às 13h30 aos domingos. Havia um intervalo de somente meia hora para repouso e refeição. Os réus alegam que o trabalho acabava às 18 horas, que o intervalo era maior e que a contratada tinha direito a uma folga por semana.

Gusttavo Lima faz propaganda do empreendimento. (Foto: Divulgação)

“As funções contratuais da reclamante eram a de embalar e frisar as embalagens de carnes, comercializadas pela reclamada, entretanto, com o passar do tempo, a reclamada passou a exigir que a reclamante fizesse cortes das carnes a serem embaladas, além da limpeza do estabelecimento e reposição de mercadorias”, diz trecho da peça acusatória.

Na decisão, publicada no dia 19 de maio, a juíza Cleuza Goncalves Lopes, da 18ª Vara do Trabalho de Goiânia, se refere apenas aos danos materiais, como vencimentos e horas extras, ignorando os acidentes de trabalho. Além de Leandro, são réus no processo a mãe do empresário, Maria de Fátima da Nóbrega, e o cunhado, Geraldo Magela Pinto da Costa. Gusttavo Lima, cujo nome de batismo é Nivaldo Batista Lima, não é citado.

As empresas mencionadas são a Carnes Goiás Eireli, a Distribuidora de Carnes São Paulo Eireli e o Frigorífico Goiás Carnes – Eireli. As três misturam seus nomes fantasias, mas, na prática, são todas administradas por Nóbrega. O cantor, por sua vez, entrou na sociedade por meio da Gsa Empreendimentos e Participações Eireli.

ALHEIO A PROCESSO, SERTANEJO COMEMORA EXPANSÃO DO NEGÓCIO

Pastor fundamentalista ajuda a divulgar açougue. (Foto: Reprodução)

Em novembro de 2021, Gusttavo Lima afirmou que vendeu, em menos de doze horas, 150 franquias do frigorífico. “Explodiu”, comemorou, em entrevista ao colunista Leo Dias, do Metrópoles. Cada uma estava avaliada em R$ 500 mil. “Negócio muito bem estruturado, muito seguro pros investidores”, disse. “Uma taxa de lucratividade na casa dos 40%”.

De Olho nos Ruralistas já falou sobre o açougue de luxo e sua relação com políticos de extrema-direita e celebridades nesta reportagem: “Frigorífico da ‘picanha de ouro’ em Goiás fez campanha irregular para Bolsonaro em 2018“. Os cantores Leonardo, Marrone e Rodolffo Matthaus, este último participante da 21ª edição do Big Brother Brasil (BBB), eram alguns dos garotos-propaganda da marca.

Nóbrega ostenta fotos com todos eles em suas redes sociais e chegou a defender o amigo Rodolffo após o episódio de racismo protagonizado pelo autor de “Batom de Cereja” contra o professor João Luiz Pedrosa durante o reality.

Com a chegada do “embaixador” Gusttavo ao negócio, a lista de apoiadores aumentou. Quem apareceu recentemente no Instagram do frigorífico, com mais de 1,6 milhão de seguidores, foi o pastor fundamentalista Marco Feliciano (PL-SP). “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”, diz a legenda, emulando o slogan fascista do presidente.

Frigorífico continua usando imagem de Bolsonaro. (Foto: Reprodução)

Os cantores Amado Batista, Zé Felipe, Jonas Esticado e Naiara Azevedo, o também ex-BBB Caio Afiune, a influenciadora Virginia e o jogador de futebol Neymar são outros famosos que já divulgaram os kits churrasco do empreendimento.

O Diário de Goiás noticiou, no dia 24 de outubro de 2018, que o Tribunal Regional Eleitoral (TRE-GO) intimara o frigorífico por vender um produto na promoção por R$ 17, em referência ao número de campanha de Bolsonaro naquele ano.

A foto divulgada pelo jornal já não está mais na página. Mas, em meio às ofertas de carnes nobres, a empresa mantém outras referências ao presidente, como um “Bolsonaro 2022” nos destaques, hashtags inspiradas nele e, claro, fake news.

Em janeiro de 2022, o perfil publicou um vídeo de Alexandre Garcia comentando a aprovação de uma lei que autorizaria fazendeiros a “passarem o chumbo” em quem invadisse suas propriedades. Trata-se de uma notícia distorcida, como mostrou o Estadão, uma vez que o projeto é italiano, e não brasileiro.

FAZENDAS DO “EMBAIXADOR” ESTARIAM EM NOMES DE TERCEIROS

Patrimônio do cantor inclui jatinho e carros de luxo. (Foto: Reprodução)

Dono do maior cachê entre os sertanejos, que varia de R$800.000 a R$1.200.000, segundo levantamento do site Movimento Country, Gusttavo Lima vive uma vida de ostentação. A lista de bens do cantor inclui mansões, jatinhos, o iate Lady Laura, comprado por R$ 25 milhões de Roberto Carlos, e uma coleção de carros de luxo (com direito a Ferrari, Porche e Lamborghini).

O sertanejo mora na região metropolitana de Goiânia, em uma faraônica residência, inspirada na Casa Branca e comparada à loja Havan, do igualmente bolsonarista Luciano Hang. Há no local um spa, um heliponto e uma praia artificial. Ele possui ainda galinhas, frangos, porcos, gansos e outros animais.

A grande incógnita, porém, diz respeito às fazendas. Sites ligados ao agronegócio apontam o cantor como dono de ao menos três grandes imóveis rurais: “Recanto Feliz”, em Goiás, “Balada”, em João Pinheiro (MG), e um terceiro em Marabá (PA). Nenhum deles, contudo, é registrado no nome de Gusttavo, ou melhor, de Nivaldo Batista Lima.

Cantor em uma de suas prováveis fazendas. (Foto: Reprodução)

Em suas redes sociais, ele posta fotos de cavalos de raça, cultivo de commodities e gado, nessas que seriam suas propriedades. No auge da pandemia, em outubro de 2020, o “embaixador” realizou uma live no meio da plantação de soja da Nutribras, em Sorriso (MT), a capital do agronegócio. Na ocasião, entusiasmado, falou que gostaria de comprar uma fazenda por lá.

De fato, a página Compre Rural divulgou a intenção do autor de Balada Boa (Tchê Tchê Rere) em adquirir uma fazenda de 39 mil hectares no Mato Grosso, avaliada em R$275 milhões. “Talvez você ainda não saiba, mas, além de cantor, Gusttavo também é um forte investidor do agronegócio no Brasil”, diz o texto, em tom elogioso.

O montante é superior ao Produto Interno Bruto (PIB) de São Luiz (RR), de R$ 147 milhões, um dos próximos destinos do “embaixador” e alvo da polêmica mais recente envolvendo seu nome. A prefeitura do município, de 8 mil habitantes, contratou o show dele por R$ 800 mil, sem licitação. O Ministério Público de Roraima (MPRR) investiga o caso.

No Twitter, o pedido por uma #CPIdoSertanejo foi um dos assuntos mais comentados da semana, no embalo também dos ataques machistas de Zé Neto, da dupla com Cristiano, à cantora Anitta. A reportagem do De Olho nos Ruralistas procurou a assessoria de imprensa de Gusttavo Lima, por e-mail, e aguarda um retorno.

| Mariana Franco Ramos é jornalista. |

Foto principal (Divulgação): dono de frigorifico e apoiador de Bolsonaro, cantor sertanejo ganhou apelido de “embaixador do agronegócio”

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