Jornal argentino conecta tratores pró-Bolsonaro à destruição do agronegócio

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Página 12 repercute relatório do De Olho nos Ruralistas, Os Financiadores da Boiada, sobre financiamento da bancada ruralista por multinacionais; dossiê foi notícia em veículos como Brasil de Fato, Congresso em Foco, IstoÉ, Perild (Reino Unido) e Deutsche Welle (Alemanha)

Por Mariana Franco Ramos

Dossiê mostra participação de gigantes da cana em lobby ruralista.

O jornal Página 12, da Argentina, atribuiu a destruição dos biomas brasileiros, em especial da Amazônia, à política promovida pelo governo ecocida e genocida de Jair Bolsonaro. Em reportagem publicada nesta quinta-feira (08), com fotos de tratores que desfilaram no Feriado da Independência em Brasília, o jornalista Gustavo Veiga comenta que o objetivo dos operadores financeiros e das corporações alimentícias é o desmantelamento das regulamentações ambientais.

Como pano de fundo, ele cita os dados do relatório “Os Financiadores da Boiada“, do De Olho nos Ruralistas, republicado pela Progressive International (PI). O observatório contou que, entre 2019 e 2021, bancos e fundos de investimento transnacionais aportaram mais de US$ 27 bilhões às empresas que integram a cadeia de financiamento do Instituto Pensar Agro (IPA), o cérebro pensante por trás da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA).

O valor corresponde ao produto interno bruto do Líbano, segundo a estimativa para 2020 do Fundo Monetário Internacional (FMI). O trabalho também menciona outras empresas, como Suzano, JBS, Marfrig, Cargill e ADM, gigantes do agronegócio que exercem seu poder empresarial para influenciar a política brasileira contra os interesses do meio ambiente, os camponeses, indígenas e os trabalhadores.

“Se o Brasil arrisca seu futuro político nas eleições presidenciais de 2 de outubro, seu modelo econômico de agronegócio na Amazônia é discutido todos os dias”, destaca o jornal. O Página 12 lembra ainda que o futuro do bioma é um dos temas mais projetados na pauta de notícias do país e do mundo como um todo. “Seu impacto ultrapassa a questão ambiental. É também econômico, social e político”.

Publicação destaca corporações que mais se reuniram com o Ministério da Agricultura sob Bolsonaro. (Imagem: Reprodução)

SEM CAMINHÕES, TRATORES DO AGRO TOMAM CONTA DA ESPLANADA

De forte caráter eleitoral, o desfile na Esplanada dos Ministérios, na manhã de quarta-feira (07), contou com apresentações das Forças Armadas, das polícias Militar e Rodoviária Federal e do Corpo de Bombeiros, além da participação de ao menos 28 tratores do agronegócio, com representação dos estados, do Distrito Federal e de organizações do setor. Quando os veículos passavam, parte da plateia respondia aos gritos de “O Brasil é agro”, como mostrou o Brasil de Fato.

O público exibiu diversas faixas golpistas, com pedidos de “intervenção militar” e ataques a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), em especial Alexandre de Moraes. Os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e do STF, Luiz Fux, não compareceram.

Por outro lado, o empresário Luciano Hang, das Lojas Havan, investigado por atuação em grupo com mensagens pró-golpe, esteve ao lado do aliado Bolsonaro o tempo todo, como se fosse um chefe de Estado.

No ano passado, caminhões invadiram a Esplanada. A equipe de reportagem do observatório pesquisou as marcas e constatou que os veículos pertenciam a empresas com histórico de trabalho escravo, crimes ambientais e conflitos agrários. Leia aqui.

Desta vez, o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB-DF), limitou o acesso aos pedestres. Os tratores, contudo, circularam normalmente, como forma de reforçar a ligação do agro com o presidente e candidato à reeleição.

Aos gritos de “O Brasil é do agro”, público saudou passagem de tratores. (Foto: TV Brasil/Reprodução)

RELATÓRIO FOI NOTÍCIA EM VEÍCULOS DO BRASIL E DO EXTERIOR

Slogan da Bayer “corrigido” pela Modefica. (Imagem: Reprodução)

O dossiê mostra que, durante o governo Bolsonaro, empresas do setor se reuniram pelo menos 278 vezes com membros do alto escalão do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Em pauta, temas como a flexibilização de regras para agrotóxicos, a autorização de testes de novas substâncias químicas direto em campo (ao invés de laboratórios) e a autofiscalização sanitária.

Com capa ilustrada pelo premiado cartunista Renato Aroeira, o documento aponta a Syngenta como campeã na interlocução com o governo, com 81 reuniões; seguida por JBS, com 75; Bayer, 60; Basf, 26; Nestlé, 23; e Cargill, 13. O relatório também pode ser acessado em inglês aqui.

O lançamento repercutiu entre líderes camponeses, como João Pedro Stedile, um dos fundadores do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST), organizações sociais e ambientais e em diversos veículos do Brasil e do exterior.

Imagem: Reprodução

A Deutsche Welle, da Alemanha, entrevistou o coordenador de projetos do De Olho, Bruno Stankevicius Bassi. Ele ressaltou que mesmo o lobby, por si só, não sendo ilegal, é notável a falta de isonomia no tratamento conferido pelo Mapa aos diversos setores interessados em debater o tema. “Apesar de não ser regulamentado no Brasil, o lobby não é ilegal. Ele é um recurso comum às democracias representativas”, afirmou.

A Modefica arrumou os slogans de algumas das empresas citadas, por financiarem o lobby ruralista em Brasília, lembrando que elas são cúmplices ou mesmo responsáveis diretas pelo desmonte.

Perild (Reino Unido), Congresso em Foco, IstoÉ, Brasil de Fato, Rede Brasil Atual (RBA), Rede TVT, Correio do Brasil, ClimaInfo, Pátria Latina, Brasil Popular, Aracaju Notícias, Blog do Pedlowski e Projeto Colabora, entre outros, também repercutiram o lançamento da publicação.

NOVO DOSSIÊ VAI MOSTRAR DIGITAIS CORPORATIVAS DOS LÍDERES DA BANCADA RURALISTA

Precisamos eleger uma bancada socioambiental, que defenda a vida. (Imagem: De Olho nos Ruralistas)

Em breve, o público vai conhecer os dados do novo dossiê sobre o tema, “Os Operadores da Boiada”, que revela os perfis de mais de 50 congressistas da FPA, com destaque para os conflitos de interesses envolvendo multinacionais do setor e o governo Bolsonaro. “Nós mostramos quem são os financiadores da boiada, empresas do mundo todo, e queremos mostrar também as digitais corporativas por trás de cada líder da bancada ruralista”, explica o diretor de redação do De Olho, Alceu Castilho.

O observatório realiza nestas eleições uma cobertura especial, com o objetivo de esmiuçar as políticas agrárias e ambientais dos últimos anos, as candidaturas do agronegócio e o funcionamento da FPA. Até 02 de outubro lançaremos novos dossiês e multiplicaremos as reportagens e os vídeos.

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| Mariana Franco Ramos é jornalista. |

Imagem principal (TV Brasil/Reprodução): Ao menos 28 tratores desfilaram pela Esplanada dos Ministérios, para mostrar o apoio do agro a Bolsonaro

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De Olho nos Ruralistas lança dossiê sobre financiamento da bancada ruralista
Empresas que invadiram Esplanada têm histórico de trabalho escravo, crimes ambientais e conflitos agrários 

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