PL compõe 1/4 da bancada ruralista na Câmara, que chega a 300 deputados

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Posse da nova diretoria da FPA em março de 2023. (Foto: Divulgação)

Maioria da nova diretoria da Frente Parlamentar da Agropecuária é da ala bolsonarista do PL; com os deputados do União Brasil e PP, eles compõem mais da metade da FPA, que tem adesão recorde nesta legislatura; Senado também ganha mais ruralistas

Por Hugo Souza

Impulsionada pela eleição de uma bancada recorde do PL em 2022, a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) cresceu 24% na Câmara dos Deputados em relação à legislatura anterior, chegando a 300 membros. Setenta e sete deles são do partido de Jair Bolsonaro — mais de um quarto da nova composição da bancada ruralista na Casa. A Câmara possui 513 deputados. No Senado, o crescimento foi de 20%, de 39 para 47 — diante de um total de 81 senadores.

O PL elegeu 99 deputados em 2022. É a maior bancada eleita na Câmara em 24 anos. Em 2018, quando o PL ainda era Partido da República (PR), foram 33 deputados eleitos. Na legislatura passada, após mudar de nome, filiar Bolsonaro e receber muitos parlamentares migrados do PSL, o partido chegou a ter 43 representantes na FPA da Câmara. Hoje, tem mais que o dobro.

PL, União Brasil e PP compõem mais da metade da FPA, com 166 deputados somados. PSD e Republicanos têm, cada, 26 deputados na frente. O MDB, 24.

Bolsonaro com o novo presidente da FPA, Pedro Lupión (PP), após uma motociata em Curitiba. (Foto: Divulgação)

Catorze deputados bolsonaristas do PL eleitos ou reeleitos em 2022 estão na diretoria da FPA. São nomes como Bia Kicis (DF), coordenadora de Alimentação e Saúde da frente; Marcos Pollon (MS), fundador do Movimento Pró-Armas e coordenador de Segurança no Campo; Caroline de Toni (SC), coordenadora jurídica; Zé Vitor (MG), Meio Ambiente; Emidinho Madeira (MG), Política de Abastecimento; Giacobo (PR), Orçamento; e Coronel Fernanda (MT), Defesa Vegetal.

Carla Zambelli (SP), Fraga (DF), José Medeiros (MT), Vermelho (PR), Rodolfo Nogueira (MS), Giovani Cherini (RS) e Roberta Roma (BA), todos eles do PL, são vogais, outro grupo influente na frente, com 30 parlamentares.

Vários outros chamados “bolsonaristas-raiz” do PL são membros da FPA na Câmara, como Mario Frias (SP), secretário de Cultura durante o governo Bolsonaro, o “príncipe” Luiz Philippe de Orleans e Bragança (SP), Maurício do Vôlei (MG), Nikolas Ferreira (MG), Carlos Jordy (RJ), Helio Lopes (RJ), Bibo Nunes (RS), Julia Zanatta (SC), Zé Trovão (SC), Gustavo Gayer (GO), Sanderson (RS).

BRASIL CONSOLIDA A “BANCADA RURALISTA DA BALA”

Bia Kicis é coordenadora de Alimentação e Saúde da FPA. (Foto: Twitter/Bia Kicisi)

Essa lista é completada por deputados do PL que carregam até no nome a bandeira da segurança pública: Capitão Alden (BA), Delegado Bilynskyj (SP), Delegado Éder Mauro (PA), Delegado Caveira (PA) e o ex-diretor da Abin Delegado Ramagem (RJ), além de Eduardo Bolsonaro (SP). O deputado Tiririca (PL-SP) também integra a bancada ruralista.

A FPA na Câmara tem ainda três deputados do PL que foram ministros do governo Bolsonaro: Osmar Terra (RS), General Pazuello (RJ) e Ricardo Salles (SP).

Com integrantes na FPA, União Brasil, PSD e MDB integram o ministério do presidente Lula, mas as direções desses partidos não garantem “apoio automático” ao governo no Congresso. Em março, 28 deputados do União — quase a metade da bancada do partido na Câmara —, assinaram o requerimento para instalação da CPI do MST, ao lado de sete do PSD e seis do MDB.

Entre os outros partidos que integram o governo e têm representantes na bancada ruralista destaca-se o PDT, com nove deputados na FPA, seguido de PT e PSB, com sete cada. Há ainda na FPA quatro deputados dos partidos que compõem, junto com o PT, a Federação Brasil da Esperança: três do PV e um do PCdoB.

Os outros partidos com deputados na Frente Parlamentar da Agropecuária são PSDB, com dez; Podemos, com seis; Cidadania, Patriota e PSC, com três cada; e Avante, Solidariedade e Novo, cada um com dois integrantes. Entre os partidos da Câmara, só PSOL e Rede não têm representantes na bancada ruralista.

SÃO PAULO PASSA MINAS EM NÚMERO DE INTEGRANTES DA FPA

Entre as unidades da Federação, após muitos anos com liderança de Minas Gerais, São Paulo é agora o estado com mais ruralistas na Câmara, com 36 deputados na Frente Parlamentar da Agropecuária. Minas vem em seguida, com 31 deputados. Três estados brasileiros têm 100% dos seus representantes na Câmara associados à FPA: Amazonas, Mato Grosso e Rondônia.

Ricardo Salles e Carla Zambelli formam a bancada paulista da FPA. (Foto: Redes Sociais)

Entre os paulistas, estão desde veteranos como Baleia Rossi (MDB) ou Arnaldo Jardim (Cidadania), representante do setor sucroalcooleiro, a quase novatos, como Ricardo Salles. O ex-ministro do Meio Ambiente de Bolsonaro teve 42% de sua campanha financiada pelo setor sucroalcooleiro. Salles recebeu no total R$ 1,84 milhão de grandes empresários. Vinte e um desses doadores eram usineiros, entre eles, o dono da Cosan, Rubens Ometto.

A ala mais jovem da FPA tem ainda outros bolsonaristas radicais, como Carla Zambelli, a deputada que teve de entregar suas armas após protagonizar uma cena de filme policial em São Paulo, e o monarquista Luiz Philippe de Orléans e Bragança, que quer acabar com a Justiça do Trabalho e com a fiscalização do trabalho escravo.

Minas Gerais passa de 33 a 31 representantes na Frente, mas continua com nomes fortes, como Newton Cardoso Junior (MDB), que se destaca pela defesa do eucalipto. Filho do ex-governador mineiro Newton Cardoso, ‘Newtinho’ é presidente e fundador da Frente Parlamentar da Silvicultura e  exportador de eucalipto. Entre os veteranos mineiros, mantêm-se nomes como os do fazendeiro Domingos Sávio (PSDB), autor de projetos anti-indígenas. Entre os novos, figuras como Maurício do Vôlei (PL), que faz parte da bancada ruralista sem ter propriedade rural ou interesse específico, mas por alinhamento ideológico.

FRENTE COM 300 MEMBROS TEM 58% DO TOTAL DE 513 DEPUTADOS

Com 300 membros em uma casa de 513 deputados, a FPA corresponde hoje a 58% da composição total da Câmara. Antes da posse dos parlamentares eleitos em outubro, a bancada ruralista tinha 241 deputados e equivalia a 47% da Câmara. Na época, da 55ª Legislatura, quando a Câmara votou pelo impeachment de Dilma e por manter Temer, a bancada ruralista compunha cerca de 45% da Casa.

Mesmo subtraindo os 27 deputados somados do PT, PSB, PDT, PCdoB e PV que aparecem na nova composição da FPA, e que podem representar dissenso, ainda assim 52% da Câmara é composta por partidos de oposição ou que são “independentes” ao governo Lula, ainda que tenham cargos no primeiro escalão da administração federal.

Entre as grandes bancadas da Câmara, o PL é proporcionalmente a terceira legenda com mais deputados na FPA: 78% da bancada do partido. O primeiro é o PP, com 86%: 42 deputados na FPA, de uma bancada de 49. É do PP o presidente da frente, Pedro Lupion (PR). Em seguida vem o União Brasil, com 80% da sua bancada partidária na Câmara integrando a bancada ruralista — 47 de um total de 59 deputados.

Historicamente, a bancada ruralista vota em bloco nas pautas fundiárias, contra os indígenas e contra o ambiente, mas não apenas. Entre 2016 e 2017, por exemplo, 83% dos votantes da FPA na Câmara foram favoráveis ao impeachment de Dilma Rousseff e, depois, 72% deles votaram pela rejeição da denúncia de corrupção passiva da Procuradoria Geral da República contra Michel Temer. A FPA compôs 50% dos votos pelo impeachment de Dilma e 51% dos votos para manter Temer.

Osmar Terra defende o impeachment de Dilma Rousseff em nome do agronegócio. (Foto: Agência Câmara)

LISTA DE SENADORES RURALISTAS INCLUI SERGIO MORO E ASTRONAUTA

No Senado, os integrantes da Frente Parlamentar da Agropecuária são hoje 47 de um total de 81. Isso representa um crescimento de 20% em relação aos 39 senadores ruralistas da legislatura anterior. Estão na Frente Parlamentar da Agropecuária onze dos doze senadores do PL; oito entre nove do União Brasil; cinco de seis do PP; todos os quatro do Republicanos. Há ainda sete senadores do PSD. MDB e PSB têm três senadores cada na FPA; PSDB e Podemos, dois; PT e PDT, um.

Como na Câmara, 58% dos senadores em exercício integram hoje a bancada ruralista.

Tereza Cristina e Luiz Carlos Heinze compõem o bolsonarismo e a FPA no Senado. (Foto: Redes Sociais)

No Senado, são nove os estados com os três senadores associados à FPA: Acre, Roraima, Tocantins, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Sergipe, Paraná e Santa Catarina. Entre os senadores catarinenses está Jorge Seif, secretário nacional da Pesca do governo Bolsonaro e que é mais um parlamentar do PL na diretoria da FPA, como vogal.

Pelo Rio Grande do Sul, estão na bancada ruralista o ex-vice-presidente da República Hamilton Mourão (Republicanos) e um ex-presidente da própria FPA, Luis Carlos Heinze (PP). A senadora Tereza Cristina (PL-MS), ministra da Agricultura de Bolsonaro e que também foi presidente da FPA, é a coordenadora de “Política no Senado” da Frente.

Entre os poucos estados com apenas um senador na bancada ruralista está o Espírito Santo, que participa com Magno Malta (PL), a ilustrar a profunda conexão entre os deputados de perfil conservador e a bancada ruralista.

Ao todo, fazem parte da atual composição da FPA oito dos nove ex-ministros de Bolsonaro eleitos no ano passado para o Congresso. Além dos deputados Osmar Terra, Pazuello e Salles, e da senadora Tereza Cristina, estão na FPA Damares Alves (Republicanos), Marcos Pontes (PL-SP), Sérgio Moro (União-PR) e Rogério Marinho (PL-RN).

Dos nove ex-ministros de Bolsonaro que são hoje deputados ou senadores, só o deputado Marcelo Álvaro Antônio (PL-MG) não está na FPA.

Hugo Souza é jornalista e editor do portal Come Ananás. |

Foto principal (Divulgação): Posse da nova diretoria da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) em março de 2023. 

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