Arco do Desmatamento tem candidatos e eleitos na lista suja do trabalho escravo

In Amazônia, De Olho no Ambiente, Desmatamento, Principal, Últimas

arcodesmatamento-banner

Vice-prefeita de São Félix do Xingu está na relação, mas passou despercebida; candidatos em Moju (PA) e Tapurah (MT) também aparecem na lista

Por Alceu Luís Castilho

Vice-prefeita de São Félix do Xingu (PA), um dos símbolos dos conflitos no campo no Brasil, a goiana Cleidi Capanema preside a Associação dos Pequenos Agricultores Rurais do Projeto Paredão. Produz leite e cria gado de corte na chácara Capanema – daí o apelido. Seu nome completo é Cleidimar Gama Rabelo. E é com esse nome que ela aparece na Lista Suja do trabalho escravo, que reúne casos de proprietários, em todo o Brasil, flagrados utilizando mão-de-obra similar à escrava.

Ela não é candidata à reeleição. Em 2012, declarou 150 alqueires – no valor de R$ 1,5 milhão – em São Félix do Xingu, entre uma chácara e uma fazenda. E um rebanho de 450 cabeças de gado. O documento do Ministério do Trabalho e Emprego – que foi atualizado pela ONG Repórter Brasil, com base na Lei de Acesso à Informação, durante um período em que sua divulgação foi suspensa – informa que quatro trabalhadores foram resgatados em 2009, na fazenda Capanema, “no vicinal da Colônia Paredão”.

O vice-prefeito de Moju (PA), Dedeco Coelho (PSB), foi denunciado em 2013 pelo Ministério Público Federal, informa a Repórter Brasil: “MPF quer julgamento imediato de vice-prefeito que entrou para lista suja do trabalho escravo”. Candidato a vereador em 2016, Altino Coelho Miranda – é seu nome de fato – declarou à Justiça Eleitoral uma fazenda em Moju, por R$ 500 mil. O nome dela? “Fé em Deus”.

Catorze trabalhadores eram obrigados a comprar mantimentos do armazém da família. Segundo o Ministério Público, sob coação. “Eles não tinham equipamento de proteção individual e bebiam água de um poço a céu aberto, além de usarem sanitários precários ou fazerem suas necessidades no mato”, resume a ONG, especializada no tema. Os trabalhadores foram explorados para a produção do dendê.

arcodesmatamento-trabalhoescravo
Banheiro dos trabalhadores libertados em Moju (Foto: MTE)

Alguns casos são mais antigos. Em 2003, a Unigrão Armazéns foi flagrada em Nova Ubiratã (MT) pela fiscalização do Ministério do Trabalho. Quatro trabalhadores foram resgatados na Fazenda Getúlio Vargas. E a quem pertence à Unigrão, confome a declaração entregue pelo candidato em 2016? A Carlos Capeletti (PSD), de Tapurah (MT), o candidato no Arco do Desmatamento – ou nos 52 municípios analisados pela reportagem – que tem as propriedades rurais mais valiosas.

A denúncia, em 2003, estava no nome de Luiz Humberto Eickhoff. É ele o atual prefeito de Tapurah. Em 2012, ele declarou 50% das cotas da Unigrão, por R$ 500 mil. Em 2008, 26%, por R$ 1,2 milhão. Capeletti, em 2016, declarou possuir 90% das cotas da empresa, por R$ 1,8 milhão Ele foi prefeito do município entre 2004 e 2008. É candidato numa coligação formada por 11 partidos: PRB, PP, PT, PMDB, PSC, PR, PPS, PSB, SD e PROS, além do PSD.

Capeletti e Eickhoff são sócios da Granja Toledo, em Tapurah, segundo a revista Dinheiro Rural. Capeletti preside a Associação dos Produtores de Proteína Animal, que em 2014 reunia 33 produtores. Naquele ano eles tiveram lucro de R$ 50 milhões, com venda exclusiva para a BRF. A lista de sócios da Unigrão, aberta em 1996, é grande, com 22 nomes – e tem Eickhoff e Capeletti entre eles.

Dono de uma fortuna de R$ 114 milhões, Capeletti declarou por R$ 13 milhões a propriedade de 40 barracos Padra Sadia, automatizados, para engorda de aves. Ele possui mais de 60 mil hectares – o tamanho de Singapura. Somente a fazenda Rio Vermelho tem 23 mil hectares, e foi declarada por R$ 19 milhões. Foi por causa de um desmatamento nessa fazenda que, em 2009, ele levou da Secretaria de Meio Ambiente uma multa de R$ 8 milhões, sob a acusação de desmatar 8.170 hectares.

LEIA MAIS:
Pecuaristas e madeireiros protagonizam eleições no Arco do Desmatamento
Dezessete madeireiros tentam ser eleitos nos 52 municípios que mais desmatam no país
Reforma agrária está parada, mas políticos declaram terras em áreas de assentamento
Pecuaristas no Arco do Desmatamento multiplicam patrimônio como prefeitos
Dezoito políticos têm 50 mil cabeças de gado no Arco do Desmatamento
Políticos declaram e exploram terras em áreas indígenas, na Amazônia e no MS

You may also read!

Apenas 1/3 da cúpula ruralista votou pela prisão de Chiquinho Brazão

Entre 48 deputados que integram cargos de comando na Frente Parlamentar da Agropecuária, 20 votaram contra a detenção do

Read More...

Gigantes da moda usam algodão “sujo” do Cerrado em suas roupas

Pesquisa da ONG Earthsight identificou que as marcas Zara e H&M, líderes mundiais no setor, usam matéria-prima oriunda dos

Read More...

Dossiê “Arthur, o Fazendeiro” é finalista do prêmio Megafone

Pesquisa sobre a face agrária do presidente da Câmara analisou o domínio territorial e político dos clãs Pereira e

Read More...

Leave a reply:

Your email address will not be published.

Mobile Sliding Menu