Na PB, ruralistas da tropa de Cunha saem do MDB, mas não do governo

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Eduardo Cunha e Hugo Motta: alegria efêmera. (Foto: Reprodução)

Bancada tenta reeleição, enquanto família de Zé Maranhão segue no partido de Temer; candidato ao governo, ele teve fazenda ocupada pelo MST

Por Luís Indriunas

Mais da metade da bancada da Paraíba na Câmara é ruralista: 7 dos 12 deputados são membros da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA).  Boa parte deles girou em torno de Eduardo Cunha. Hugo Motta (PRB) e Manoel Júnior (PSC) trabalharam ativamente como “ferramenta legislativa” do ex-presidente da Câmara, hoje preso por corrupção. Por ele, Wellington Roberto (PR) foi às vias de fato: deu um safanão no seu colega Zé Teixeira (PT-PA). Mesmo Benjamin Maranhão (MDB), que evita falar de Cunha, já se solidarizou com o político fluminense.

Enquanto a bancada ruralista tem Cunha como um passado comum, os novos políticos da Paraíba trabalham para os oligarcas de sempre. Os caçulas Efraim Filho (DEM), com 39 anos,  e Hugo Motta (MDB), com 29 anos, possuem a estrutura econômica e de poder de velhos latifundiários da região. O ex-senador Efraim de Morais (DEM) possui 1.314 hectares. O pai de Hugo, o deputado estadual Nabor Wanderley (PRB), ex-prefeito de Patos, 780 hectares. E Benjamim Maranhão, com 47 anos, conta com o fazendeiro Zé Maranhão.

FAMÍLIA TEM MANSÃO EM ÁREA INDÍGENA

Cinco fazendas, duas aeronaves, duas empresas agropecuárias, casas e apartamentos representam os R$ 8 milhões que o senador e candidato a governador Zé Maranhão (MDB) registrou no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O valor é quatro vezes maior que os R$ 2,2 milhões de patrimônio registrados, em 1998, pelo político.

Zé Maranhão tenta fortalecer governo Temer. (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Essa lista de bens não inclui uma fazenda da família em Tacina, no semiárido paraibano, ocupada, em abril de 2018, por integrantes do MST. No local funciona uma usina de açúcar, mas Benjamin Maranhão nega que ela pertença ao clã.

Outra preocupação vem do litoral. A irmã de Zé Maranhão (e mãe de Benjamin), Wilma Maranhão, ex-prefeita de Ararauna, tem uma mansão que incide em terras Potiguara no município de Baia da Traição, ao norte de João Pessoa. Em 2009, os indígenas ocuparam a área e pediram a demarcação. (A política declarou, em 2012, uma fazenda de 161 hectares em Araruna, mas nenhum imóvel em Traição.)

Os problemas fundiários da família não impedem Benjamim de defender o governo federal, criticando o ex-procurador Rodrigo Janot pelo oferecimento de denúncia contra Temer – acusado de receber propinas da JBS.  Durante a campanha de 2014, o deputado recebeu, oficialmente, R$ 250 mil da JBS. Seu tio, R$ 600 mil. Mas o paraibano que tem a JBS como Calcanhar de Aquiles é o deputado Manoel Junior (MDB).

DEPUTADO ERA BRAÇO DIREITO DE CUNHA

O deputado Manoel Junior está desde 2007 na Câmara, onde se aproximou de Eduardo Cunha. Ele está na denúncia do procurador Rodrigo Janot em ação que apura venda de emendas envolvendo Cunha e o presidente Michel Temer. Manoel Junior funcionava como intermediário entre Cunha e as empresas que negociavam emendas. Em 2017, ele foi citado em delação da JBS, acusado de receber pelo menos R$ 100 mil.

Manoel Junior com o senador José Maranhão. (Foto: Manoel Junior/ Facebook

Em 2012, defendeu o fim das fiscalizações municipal e estadual para as inspeções animais, responsabilizando apenas a União, uma demanda de grandes pecuaristas. Tem fama de truculento. Em 2000, foi acusado por testemunhas de mandar matar o vereador José Barros (PT), em Pedras do Fogo, município onde já foi prefeito. Ele nega.

O deputado faz parte daquele grupo de ruralistas, integrantes da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), que não declara bens rurais. Seu patrimônio mais que quintuplicou em 16 anos, de R$ 310 mil, em 2002, para R$ 1,7 milhão, em 2018.

Sua relação com Cunha ficou arranhada quando Manoel decidiu votar pela cassação do deputado e por estarem dividindo um mesmo processo na Justiça.

Um de seus colegas de bancada também estava na linha de frente nessa época: Hugo Motta (PRB). Ele não compareceu no dia da cassação de Cunha, mas nunca deixou de acolher o deputado.

AVÓ, MÃE, PAI E PADASTRO, TODOS ACUSADOS

Hugo Motta (PRB) é um jovem político dentro de uma velha família de políticos. Foi o mais jovem da história do país a se eleger deputado no país, aos 21 anos, nas eleições de 2010. Ele descende de uma tradicional oligarquia do Sertão da Paraíba. A dinastia começou com Nabor Wanderley, que foi prefeito de Patos, em 1956. Cinquenta anos depois, sua avó, Chica Motta (MDB), foi afastada do cargo de prefeita da mesma cidade por licitação irregular de veículos que movimentou R$ 11 milhões em recursos públicos.

Prefeita Chica Motta e seu neto Hugo, em Patos. (Foto: Prefeitura de Patos)

A mãe de Hugo, Llana, era chefe de gabinete da prefeitura e foi presa. Seu padastro, José William Madruga, foi afastado da prefeitura de Emas e preso, pelas mesmas irregularidades. Por fim, seu pai, deputado estadual Nabor Wanderley, foi acusado, em Patos, de receber 10% de propina em um contrato de R$ 1,1 milhão de uma construtora de terraplanagem.

Contra o próprio Hugo Motta pesa a acusação de ter sido uma “ferramenta legislativa” de Eduardo Cunha. Ele fazia o que o ex-presidente da Câmara pedia. Os dois têm uma relação próxima. No ano passado, a filha de Cunha, Danielle Dytz Cunha, apareceu em João Pessoa para prestigiar o casamento do deputado. Danielle já foi assessora do jovem parlamentar e sempre que pode está em João Pessoa.

Enquanto Hugo faz campanha na Paraíba, Danielle também tenta carreira solo na política no Rio e lidera as doações do MDB, até o momento, com R$ 2 milhões. Ela tenta o mesmo posto do pai: a Câmara.

DEPUTADO SAIU NO TAPA POR CUNHA

Outro deputado com apreço especial pela família Cunha é o deputado federal Wellington Roberto (PR), protagonista de cenas de violência na tentativa de defender o colega da cassação. Wellington Roberto deu uns tapas no deputado Zé Geraldo (PT-PA), que reclamava da “turma do Cunha” no Conselho de Ética da Câmara. Foi um dos únicos deputados que ficou com Cunha até o fim. Ele busca a reeleição.

Wellington Roberto foi da Tropa de Choque de Eduardo Cunha. (Foto: Lucio Bernardo Jr./Câmara)

Roberto viu sua fortuna dobrar em 20 anos e chegar a R$ 3,69 milhões. Em 2018, adquiriu uma terra nua. Do ramo imobiliário e de construção urbana, é acusado de trabalhar o velho voto de cabresto. Seu filho Bruno Roberto foi preso pela com dinheiro, contas de luz, água, fraldas descartáveis, brinquedos e panfletos de propaganda eleitoral dentro do carro em Campina Grande (PB), em 2014.

E foi no mesmo município, um dos principais do interior nordestino, que Wellington gastou R$ 189 mil em um só posto de gasolina: o do seu irmão, José Edvan Roberto.

Outro ruralista que tenta a reeleição é Wilson Santiago (MDB). Ele não declarou nenhuma fazenda nas declarações para o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Mas a Companhia de Água e Esgotos da Paraíba (Cagepa) já descobriu  ligação clandestina de água em uma fazenda da família de Santiago, que foi multada.

Bem mais grave a situação do seu filho, o deputado federal Wilson Filho (PTB). Ele é da turma acusada de fazer negociações ilícitas de registros sindicais no Ministério do Trabalho, comandada pelo presidente do PTB, Roberto Jefferson, segundo denúncia da Procuradoria Geral da República. Outros políticos citados nessa operação são os paulistas Nelson Marquezelli (PTB) e Paulinho da Força (SD), como contamos em reportagem sobre os ruralistas de São Paulo: “Candidatos de SP preferem defender o setor da cana a participar da FPA“.

Enquanto isso, indicados da família Santiago para cuidar da saúde indígena são alvo de fiscalização da Controladoria Geral da União (CGU). Em 2017, o órgão detectou má aplicação de verbas, num total de R$ 879 mil, no Distrito Sanitário Especial Indígena Potiguara, criado para ofertar um atendimento diferenciado aos indígenas da Paraíba e do Rio Grande do Norte.

EFRAIM É DEFENSOR DA VAQUEJADA

Outros componentes da bancada paraibana não são alvos de acusações. Mas têm um histórico em defesa do agronegócio – e de seus satélites. Filho do ex-senador Efraim Morais, que é dono de 1.314 hectares de terra no Estado, Efraim Filho foi um grande apoiador da regularização das vaquejadas.

Líder do DEM na Câmara, o deputado tem bom trâmite no governo Temer. No caso do prazo de adesão ao Refis Rural, votou contra o governo. No início do ano, emplacou seu tio, Inácio Morais Junior, como novo secretário Nacional de Mobilidade Urbana, um das mais importantes órgãos dentro do Ministério das Cidades.

Durante o governo de Ricardo Coutinho (PSB), em 2013, Efraim era suspeito de facilitar a contratação da empresa Ideia Digital em troca de terreno de seu interesse. A denúncia também tinha como protagonista o vice-governador Rômulo Gouveia (PSD), ex-deputado federal falecido em maio. Sua mulher, Eva Gouveia (PSD), tenta uma vaga na primeira suplência do ex-governador Cássio Cunha Lima, candidato à reeleição no Senado.

Veja quem são os ruralistas que tentam a reeleição.

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