Uma das latifundiárias da família no Mato Grosso, Ninagin Dallagnol é casada com juiz suspeito de favorecer candidato em Lucas do Rio Verde; André Gahyva se afastou da Justiça Eleitoral após vazamento de conversa em que trama contra adversário político
Por Leonardo Fuhrmann e Alceu Luís Castilho
Prima do procurador da República Deltan Dallagnol, a advogada Ninagin Prestes Dallagnol casou em 2017 com o juiz André Luciano Costa Gahyva. Ele chegou a se afastar do cargo depois de ser acusado de favorecer um dos candidatos nas eleições municipais de 2012, em Lucas do Rio Verde (MT) quando atuava como juiz eleitoral. Gahyva respondeu a um Procedimento Administrativo Disciplinar determinado pelo Tribunal de Justiça.
Ninagin é uma das latifundiárias da família Dallagnol em Nova Bandeirantes (MT), a 668 quilômetros de Lucas do Rio Verde. E a maior beneficiada na desapropriação feita pelo Instituto Nacional de Colonização Agrária (Incra) na Gleba Japuranã, naquele município, até o momento. O valor pago em indenizações por desapropriações na região está sob investigação do Incra desde maio, por suspeitas de irregularidades. O total recebido por ela está entre os dez maiores liberados pelo Incra para desapropriações em 2016.
Filha de Xavier Leonidas Dallagnol – irmão de Agenor Dallagnol, pai de Deltan -, ela é sócia do pai em um escritório de advocacia em Cuiabá. A prima de Deltan Dallagnol também advogava no Paraná, mas o registro no estado foi suspenso por falta de pagamento.
Ela recebeu, em dezembro de 2016, uma indenização de R$ 17 milhões por uma desapropriação de terras feita pelo Incra em Nova Bandeirantes, onde a família tem diversas propriedades. No mesmo dia, o irmão dela, Belchior Prestes Dallagnol, ganhou R$ 9,5 milhões. Agenor Dallagnol, tio de Ninagin e pai de Deltan, foi outro beneficiado: recebeu R$ 8,8 milhões, segundo o Portal da Transparência. A mãe de Ninagin também foi beneficiada no mesmo dia, mas com um valor mais modesto: R$ 1,6 milhão.
JUIZ DEU PARECER FAVORÁVEL A GILMAR MENDES
Em uma gravação vazada à imprensa, Gahyva fala com o candidato a prefeito Rogério Ferrarin (PMDB) durante a campanha eleitoral. O assunto da conversa entre ambos, em um carro numa estrada vicinal, era planejar decisões contra o principal adversário de Ferrarin, Otaviano Pivetta (PDT), que saiu vitorioso na disputa. Ferrarin é da família que vende no Brasil o agrotóxico Topatudo, uma das substâncias classificadas como extremamente tóxicas liberadas pelo Ministério da Agricultura em janeiro.
Gahyva também foi acusado de favorecer uma das partes no processo de falência da Álcool Branca, em 2014, quando era juiz em Tangará da Serra (MT). A representação foi feita pelo empresário Eliseu José Schafer, credor, que teria sido prejudicado pela decisão. Segundo ele, o beneficiado era cliente da advogada Samantha Gahyva, prima do juiz. Gahyva afirmou, em sua defesa, que a prima só entrou no caso na segunda instância, quando o processo já não estava em suas mãos.
Aí está mais um ponto em comum entre as duas famílias. Assim como Samantha, Xavier e Ninagin também advogam para José Pupin, que já foi conhecido como “o rei do algodão” e está envolvido em diversas ações por grilagem de terras. A empresa atualmente está em recuperação judicial. Em um dos processos nas mãos de Samantha, a Justiça determinou a reintegração de posse em parte de uma fazenda Marabá, ocupada pela empresa, em Campo Verde.
Em fevereiro, Gahyva apareceu no noticiário nacional, já como juiz em Diamantino (MT), por dar uma decisão favorável ao ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e sua família. Mendes e os dois irmãos foram denunciados pelo Ministério Público do Mato Grosso por uso excessivo de agrotóxicos na área de proteção ambiental Nascentes do Rio Paraguai. Protegida por lei, a região tem função crucial na preservação do bioma do Pantanal.
Em outra denúncia, a família do ministro – um crítico dos superpoderes da Operação Lava Jato – foi acusada de plantar produtos transgênicos sem a apresentação de um Plano de Manejo para a secretaria de Meio Ambiente do Mato Grosso. Segundo o Ministério Público, o documento é obrigatório para esse tipo de cultivo, que não é liberado em áreas de preservação.
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