Na outra ponta do impasse fundiário em Nova Bandeirantes (MT), camponeses se sentem acuados com situação

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Na espera pela regularização das terras, trabalhadores assentados adiam investimentos em projetos de irrigação, entre outras melhorias; medida impacta negativamente em rendimentos, diz Izete de Souza, presidente de associação local

Por Leonardo Fuhrmann e Alceu Luís Castilho

A situação agrária em Nova Bandeirantes (MT) é bastante confusa, como mostra relatório elaborado pelo Instituto Centro de Vida, em parceria com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), publicado em agosto de 2015. O trabalho é parte de um estudo sobre governança fundiária nos municípios do estado. O total das áreas privadas registradas no município a partir do Sistema de Cadastro Rural, gerenciado pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), é 13% maior do que a área total de Nova Bandeirantes, que tem outros assentamentos e, em 6,5% de sua área, uma parte do Parque Nacional Juruena.

Apesar de a maioria das propriedades ser de pequeno porte – 43% dos imóveis têm entre 20 e 100 hectares – mais da metade do município é ocupada por latifúndios e 56% da área está em propriedades de mais de 1 mil hectares. Mesmo com a conclusão da desapropriação da gleba, os irmãos Dallagnol seguirão entre os proprietários de áreas superiores a 1 mil hectares no município. Os produtores sem posse definitiva da terra, como é o caso dos moradores de Japuranã, são 31,4% dos quem têm atividade agropecuária em Nova Bandeirantes.

Moradores de Japuranã sem posse definitiva da terra são 31,4% dos quem têm atividade agropecuária. (Mapa: ICV)

 

Segundo Marilza Reis Moraes Silva, secretária-geral da Federação dos Trabalhadores da Agricultura do Mato Grosso (Fetagri-MT) e ex-presidente do sindicato dos trabalhadores rurais da cidade, os moradores da gleba Japuranã chegaram em 1996. As terras foram cedidas pelos Dallagnol e outros proprietários em regime de comodato. O clã seguiu dono de outras propriedades no entorno. As famílias transferidas para a terra estavam antes acampadas na beira de uma estrada em Rondonópolis (MT). As 425 famílias que aguardam regularização representam metade do total de assentados.

Presidente de uma das associações locais, Izete Janoski de Souza vive na área e aguarda a regularização. Sua família tem 88 hectares, onde cultiva uma horta, café, cupuaçu e gado leiteiro. “A maioria de nós é de pequenos produtores, que vivem do que produzem”, diz. Segundo ela, o impasse faz as pessoas não melhorarem a irrigação, por exemplo, porque isso significa investir. Oito associações representam os assentados. No mês passado, funcionários do Incra estiveram na região para fazer medições. Com isso, os moradores têm esperança que a situação seja resolvida.

O clã Dallagnol entrou na Justiça Federal contra o Incra para garantir sua indenização pelas terras. O procurador Deltan Dallagnol não quis se manifestar sobre o assunto, segundo a assessoria de imprensa do Ministério Público Federal no Paraná. Xavier Dallagnol, principal pivô das disputas no Mato Grosso, foi procurado em seu escritório, mas não retornou as ligações até o fechamento desta reportagem. De Olho nos Ruralistas enviou ao Incra, no dia 18 de julho, treze perguntas sobre a resolução, a situação das terras e das investigações. Não houve resposta. Segundo os assentados, os estudos de campo estavam sendo realizados neste mês.

Foto principal: Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Nova Bandeirantes-MT (Facebook/Reprodução)

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