Três tios de Deltan Dallagnol figuram entre desmatadores da Amazônia

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Documento do Ibama registra autuação de Xavier. (Fonte: Ibama)

Envolvida em disputa de terras, família do procurador da Lava Jato responde também por crimes ambientais na região de Nova Bandeirantes, em região conhecida como “portal da Amazônia”; eles são acusados de fazer loteamentos ilegais

Por Leonardo Fuhrmann e Alceu Luís Castilho

Dois tios e uma tia do procurador da República Deltan Dallagnol, coordenador da Operação Lava Jato em Curitiba, foram flagrados por desmatamento ilegal na Amazônia. Os três casos ocorreram em Nova Bandeirantes, município em que membros do clã Dallagnol são proprietários de vários latifúndios, entre eles os pais de Deltan: o procurador de Justiça aposentado do Paraná Agenor Dallagnol e Vilse Salete Matinazzo Dallagnol. Um dos flagrados por infração contra a flora é Xavier Dallagnol, peça importante para se entender a territorialização da família na região. Outro é Leonar Dallagnol, conhecido como Tenente. Saiba mais sobre ele aqui: “Conhecido como Tenente, Leonar Dallagnol foi acusado de invadir terras ao lado de Pedro Doido”.

Desmatamento em Nova Bandeirantes. (Foto: Daniel Beltra/Greenpeace)

No noroeste do Mato Grosso, quase na fronteira com Amazonas, Nova Bandeirantes está localizada no Portal da Amazônia, região da Amazônia Legal, que marca a entrada para a floresta pelo estado. A área concentra um dos principais focos do desmatamento do país nos últimos anos. Por essa razão, foi incluída no chamado arco do desmatamento. O município, emancipado de Alta Floresta no início dos anos 1990, começou a ser formado a partir de 1982, em um processo de ocupação iniciado ainda durante a ditadura militar. Foi o período em que os Dallagnol chegaram à região.

Os negócios da família em Nova Bandeirantes são geridos principalmente pelos irmãos Xavier Leonidas Dallagnol e Leonar Dallagnol, o Tenente. Os dois irmãos, Xavier e Tenente, já foram flagrados em desmatamento irregular. Em 2010, Tenente assinou um termo de ajustamento de conduta com o Ministério Público Estadual do Mato Grosso por degradação do ambiente. Ele foi acusado de destruir a vegetação da área de reserva legal da Fazenda Aruanã.

Xavier e a mulher, Maria das Graças, foram autuados pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) por desmatamento ilegal, ambos em 2017. Xavier foi multado pelo desmatamento de uma região de 276,5 hectares. Maria das Graças Prestes recebeu autuação pela devastação na Fazenda Iassã, na região de Japuranã, também em Nova Bandeirantes. Essas duas multas ainda não foram pagas, porque há recursos pendentes de julgamento.

XAVIER DALLAGNOL E ‘TENENTE’ SÃO ACUSADOS DE LOTEAR TERRAS ILEGALMENTE

Mapa mostra desmatamento na região de Nova Bandeirante. (Fonte: ICV)

 

Além de desmatar, os dois tios de Deltan – o procurador tem mais quatro tios com latifúndios na região – são acusados de lotear terras ilegalmente: Leonar, o Tenente, e Xavier Dallagnol foram alvos de um inquérito em Nova Monte Verde, município próximo de Nova Bandeirantes.

Tenente confirmou ao Ministério Público, em 2016, que era o proprietário do loteamento Estrela Dalva e que o irmão Xavier era o responsável pelo loteamento Jupuranã, também no  município. A empresa Estrela Dalva Empreendimentos Imobiliários, criada naquele ano e localizada na gleba Japuranã, epicentro dos latifúndios da família, está, de fato, em nome de Leonar Dallagnol, conforme apurou o De Olho nos Ruralistas. Ele é o único sócio.

A investigação do Ministério Público continua em andamento. Em outro inquérito por loteamento ilegal, Xavier Dallagnol – defensor de acusados por grilagem – foi beneficiado pela prescrição da pena, segundo o Portal da Transparência do MP-MT.

‘EXTRAÇÃO IRREGULAR DE MADEIRAS DE TODAS AS ESPÉCIES’

Xavier Dallagnol está envolvido em uma disputa judicial de terras com a Madeireira Juara, em Nova Monte Verde. No ano passado, ao longo do processo, Xavier e a esposa foram acusados de desrespeitar decisões liminares e causar dano ambiental na área em disputa, com a “extração irregular de madeiras de todas as espécies”.

Ele e a madeireira também são investigados por dano ambiental em um inquérito proposto pelo Ministério Público do Mato Grosso, a partir de representação da Associação Comunitária Rural Matrinchã. A investigação está em andamento, segundo o portal da transparência do MP-MT. No município, Xavier é investigado em outros processos, inclusive inquéritos policiais, por dano ambiental.

Deltan Dallagnol não quis se manifestar sobre o assunto, segundo a assessoria de imprensa do Ministério Público Federal no Paraná. Xavier Dallagnol foi procurado em seu escritório, mas não retornou as ligações até o fechamento desta reportagem. Leonar não foi localizado.

Foto principal: documento do Ibama registra autuação de Xavier Dallagnol. (Fonte: Ibama)

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