Prêmio recebido por Bolsonaro homenageia artífice do Código Florestal

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Homenagem da bancada ruralista leva o nome de Moacir Micheletto, que chegou a repreender o presidente após ele chamar os indígenas de “fedorentos”; ex-deputado propôs reduzir de 80% para 50% o percentual de preservação ambiental em propriedades na Amazônia

Por Mariana Franco Ramos

A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) entregou a Jair Bolsonaro, nesta segunda-feira (06), o primeiro Prêmio Moacir Micheletto, que leva o nome de um dos artífices do novo Código Florestal. A justificativa é de que o presidente da República, que se elegeu e governa em aliança com o agronegócio, tem se dedicado a promover e defender o setor.

Presentes na solenidade, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, familiares de Micheletto e os principais membros da bancada ruralista fizeram reverências ao chefe do Executivo. O presidente da FPA, Sérgio Souza (MDB-PR), chamou Bolsonaro de “um grande parceiro”, que ajuda as causas da frente. A deputada federal Aline Sleutjes (PSL-PR), retratada neste observatório como a dama do leite, ressaltou que o presidente “sempre defendeu e promoveu o agronegócio brasileiro”.

Outro a comemorar a entrega foi Evair de Melo (PP-ES). “Esse prêmio envolve duas personalidades que honraram e continuam honrando a agropecuária”, afirmou. “Toda minha família está muito orgulhosa pelo meu saudoso pai e por saber que o primeiro homenageado foi o presidente”, reforçou Marcel Henrique Micheletto, filho do ex-parlamentar.

Segundo reportagem do UOL, a solenidade ocorreu dentro do gabinete de Bolsonaro, no Palácio do Planalto, sem transmissão pela Internet. A TV Brasil chegou a publicar um link no YouTube para a cobertura do evento, previsto na agenda oficial. A mudança foi comunicada repentinamente à imprensa pela FPA, sem qualquer explicação. Nas redes sociais do grupo e dos parlamentares, contudo, choveram elogios ao presidente.

Bolsonaro recebe homenagem das mãos de Sérgio Souza, presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária. (Foto: Divulgação)

EX-DEPUTADO ERA CONSIDERADO INIMIGO DE ONGS AMBIENTALISTAS

Nascido em Xanxerê (SC), em 1942, Moacir Micheletto fez carreira política no oeste do Paraná. Integrou a Aliança Renovadora Nacional (Arena), partido de sustentação da ditadura, até o fim do bipartidarismo, quando se filiou ao PP e depois ao PMDB (hoje MDB). Agrônomo, presidiu o Sindicato Rural de Assis Chateaubriand e foi vice-presidente da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep), além de presidente e coordenador político da FPA.

Micheletto no plenário da Câmara, em 2009. (Foto: Gilberto Nascimento/Agência Câmara)

O ex-deputado é o autor da proposta de alteração no Código Florestal que reduz de 80% para 50% o percentual de preservação ambiental obrigatória em propriedades situadas na Floresta Amazônica, e de 50% para 20% a mesma reserva legal no Cerrado.

Ele alegava que a lei de reserva seria inconstitucional. “Se uma terra tem vocação para a agricultura, seria um crime (não usá-la) em um país como o nosso, que precisa produzir alimentos, que tem que dar renda e tem que dar emprego”, disse, ao Congresso em Foco.

Por isso, se envolveu em embates com organizações e líderes ambientalistas. Acusou, sem provas, o World Wide Fund for Nature (WWF) e o Greenpeace de agirem em defesa de interesses econômicos internacionais. E afirmou, na mesma entrevista, que “os indígenas também destroem o meio ambiente”.

Em 2010, encarregado de presidir a comissão especial que discutiu o tema na Câmara, o paranaense contratou uma consultoria, supostamente isenta, para dar um parecer sobre o projeto. Conforme o Estadão, porém, quem recebeu os R$ 10 mil correspondentes foi a advogada Samanta Piñeda, da própria FPA. Moacir Micheletto faleceu em 2012, em um acidente de carro.

MICHELETTO REPREENDEU BOLSONARO POR ATAQUE RACISTA A INDÍGENAS

Detalhes do troféu entregue a Bolsonaro. (Foto: Divulgação)

Voz forte do agronegócio dentro e fora da Câmara, Micheletto não parecia compactuar com todos os comportamentos do agora homenageado. Em 2004, durante uma reunião sobre a demarcação da Terra Indígena (TI) Raposa Serra do Sol, ele repreendeu falas racistas do então deputado federal pelo PTB fluminense.

Nas palavras de Bolsonaro, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), “apesar de abonado e constituído por pessoas que falam a nossa língua e são educadas”, não consegue fazer a reforma agrária. Na opinião do atual presidente, “índios fedorentos, não educados e não falantes de nossa língua” conseguem possuir 12% das terras brasileiras “e fazer lobby no Congresso Nacional”.

A manifestação discriminatória causou indignação no plenário, principalmente entre indígenas e camponeses que acompanhavam o encontro. Micheletto presidia a comissão externa instalada para debater o tema. Ele e o relator, Lindberg Farias (PT-RJ), rebateram os ataques de Bolsonaro. As cenas de desrespeito aos camponeses foram registradas pelo Instituto Socioambiental (ISA).

Hoje deputada federal, Joênia Wapichana era advogada do Conselho Indígena de Roraima (CIR). Ela solicitou a Eduardo Valverde (PT-RO) que fizesse a leitura de uma carta de repúdio. “Os povos indígenas têm sim muita educação, tanto que estão fazendo uma manifestação pacífica”, escreveu. “Eles têm cheiro de terra, porque da terra é que vivem”.

| Mariana Franco Ramos é repórter do De Olho nos Ruralistas. |

Foto principal (Divulgação): integrantes da FPA destacaram contribuições que Bolsonaro já deu ao agronegócio

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