O deputado federal Carlos Marun (MDB-MS) ficou conhecido nacionalmente por sua defesa incansável de Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara, preso por corrupção. Hoje ministro da Secretaria de Governo, Marun é um dos principais defensores do presidente Michel Temer contra as acusações que o assombram.

É com esse mesmo empenho que Marun defende os fazendeiros envolvidos com a morte de indígenas no Mato Grosso do Sul. Enquanto isso, ele nomeia chefes da Fundação Nacional do Índio (Funai) no estado.

Michel Temer, Carlos Marun e o coordenador regional da Funai, Paulo Rios Júnior. (Foto: Divulgação)

Em março, Marun comemorou uma decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) que negou a ampliação da Terra Indígena Buriti, entre Sidrolândia e Dois Irmãos do Buriti, pleiteada por órgãos federais como forma de atender populações indígenas. A área foi palco de um conflito em 2013, quando foi assassinado o indígena Oziel Gabriel, da etnia Terena, aos 35 anos, nas terras de um antigo deputado tucano, Ricardo Bacha.

Em junho de 2016, o deputado subiu à tribuna da Câmara para dizer que a verdadeira culpada pela morte em Caarapó do agente de saúde indígena Clodiodi Aquileu Rodrigues da Costa, da etnia Guarani Kaiowá, foi a ex-presidente Dilma Rousseff. O agente foi morto e outras seis pessoas ficaram feridas após fazendeiros e jagunços atacarem uma retomada na Terra Indígena Dourados-Amambaipeguá I. Antes de ser deposta, Dilma homologou a área de 55,6 mil hectares.

Marun participou como integrante da Comissão Parlamentar de Inquérito da Funai, cuja sub-relatora foi a deputada federal Tereza Cristina (DEM-MS), anunciada por Jair Bolsonaro como futura ministra da Agricultura.

Em âmbito nacional, a Funai está sob o comando do líder do governo na Câmara, André Moura (PSC). O órgão no Mato Grosso do Sul vive sob o domínio de Marun, que cria conflitos e mostra desconhecimento das reivindicações e anseios dos povos originários do estado.

Para a coordenação regional de Campo Grande, ele nomeou seu antigo assessor parlamentar Paulo Rios Júnior. O coordenador chegou a dar “certificados para caciques”, afrontando a premissa de autonomia da organização política dos indígenas. Marun defendeu a medida. Em abril, indígenas protestaram reivindicando a saída do atual administrador.

Lideranças indígenas ocupam a Funai de Campo Grande, em 2017. (Foto: Hekere Terenoe)

O ministro de Temer tinha tentado emplacar para o cargo o nome do coronel Renato Vida Sant’Anna, que saiu após protestos dos indígenas contra a ameaça de militarização do órgão.

Marun não se candidatou às eleições de 2018, mas foi um dos governistas que apoiaram publicamente Bolsonaro, dizendo que o projeto do capitão reformado se assemelha ao de Temer.

Assim como Temer, Bolsonaro deve continuar a não demarcar “nenhum centímetro” de terra para os povos tradicionais, como prometeu várias vezes durante a campanha.

DEPUTADO DEFENDE O AGRONEGÓCIO

Em sua declaração de bens entregue em 2014 ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o engenheiro Marun informou ter apenas R$ 94 mil – menos do que tinha em 2002, R$ 103 mil – e nenhuma propriedade rural. Nem a casa em Campo Grande (MS), declarada em 2010, está mais no seu nome.

Os negócios da família estão na mão de sua mulher, Luciane Garcia Marun. Ela já foi corretora de imóveis de alto padrão e hoje é proprietária de uma empresa de consultoria empresarial com foco em investimentos. Aberta em 2009, com o nome de Luanda, a empresa cresceu junto com a ascensão política do marido e, em 2016, tornou-se a Brazilian Opportunities Assessoria Empresarial, ou Bropp.

O casal tem usado viagens de missão oficial para apresentar suas propostas empresariais num vastíssimo espectro de atuação, do turismo à siderurgia, passando pelo agronegócio. O setor é responsável por 41% do R$ 1,6 milhão que custeou sua campanha a deputado em 2014.

O abatedouro de aves Itaquirai, cujo nome fantasia é Bello Alimentos, doou para Marun R$ 130 mil. A empresa tem direcionado metade de sua produção para os mercados árabes, região que a Bropp tem visitado constantemente.

O deputado também recebeu R$ 103 mil da JBS, por meio da campanha para governador de Nelson Trad. Três anos depois, alinhado com Michel Temer, foi relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da JBS, que investigava os empréstimos  do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ao grupo.

Essa comissão foi utilizada para pressões políticas, como a ameaça de indiciar o então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, por prevaricação. Janot é o autor da denúncia baseada na delação premiada dos donos da JBS que pesa contra Michel Temer.

O ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), abriu inquérito em setembro para investigar Marun e sua chefe de gabinete, Vivianne Lorenna Vieira, por suspeita de corrupção e associação criminosa no âmbito da Operação Registro Espúrio, que apura um esquema de fraudes no Ministério do Trabalho envolvendo a liberação de registros sindicais. Marun se diz inocente.