Lideranças Guarani-Kaiowá discutem a decisão do STF. (Foto: Lídia F. Oliveira/Cimi)

A declaração de bens entregue por Waldeli dos Santos Rosa (MDB) ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostra que ele possui 12 mil hectares em 22 fazendas no Mato Grosso do Sul. As propriedades estão divididas entre Costa Rica, município onde ele é prefeito, com 8.295 hectares, e Água Clara, 246 quilômetros ao sul do estado, com 3.955 hectares. O político também é dono de 4.288 cabeças de gado. Sua fortuna declarada em 2016 somava mais de R$ 15 milhões. Ele é proprietário também de um supermercado e de uma empresa de construção civil, em Costa Rica, além de uma empresa que comercializa agrotóxicos em Macapá. Nem o supermercado, nem a empresa no Amapá constam da declaração entregue há dois anos ao TSE.

Somados, os 12 mil hectares do prefeito são maiores que os 11.440 hectares da Terra Indígena Guyraroká, da etnia Guarani Kaiowá, declarada em 2009 pela Fundação Nacional do Índio (Funai). O processo de demarcação está paralisado desde 2014, após a 2ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) aplicar o critério do marco temporal. Por esse critério, as terras indígenas só podem ser demarcadas se a população tradicional estivesse no local antes da promulgação da Constituição de 1988. A medida não considera o histórico de expulsões e pressões econômicas ocorridas anteriormente, inclusive durante a ditadura militar, como no caso dos Guarani Kaiowá.

Em agosto, lideranças indígenas fizeram uma assembleia onde decidiram resistir à medida. “Fomos submetidos a todos os tipos de violações e expulsos muitas e muitas vezes”, escreveram no documento. “Apesar das cicatrizes e dos ataques, nosso povo sempre voltou para sua terra. Sempre que voltamos fomos expulsos por aqueles que roubaram nossa terra e levados de caminhão como animais para a reserva. Mas voltamos de novo. Nunca abandonamos Guyraroká para que hoje nossas crianças e nossos velhinhos vivam aqui”.

De Olho nos Ruralistas está mostrando – na série De Olho no Mato Grosso do Sul – como os políticos do estado possuem terras por todo o estado. A primeira reportagem da série mostra com o auxílio de um mapa, município por município, como eles possuem bem mais terra que os povos indígenas:  “MS tem 1.351 hectares por político e apenas 1 hectare para cada Guarani Kaiowá“.

Prefeito de Costa Rica tem 8 mil hectares no município e outros 4 mil hectares em Água Clara.

WALDELI QUER O GOVERNO ESTADUAL

A fortuna do prefeito latifundiário já foi maior. No seu quarto mandato como prefeito de Costa Rica, Waldeli declarou R$ 28 milhões. Em 2004, quando se reelegeu pela primeira vez, o emedebista não declarou bens à Justiça Eleitoral. Não há dados disponíveis sobre o ano de 2000, quando ele venceu sua primeira eleição.

O prefeito iniciou sua carreira no MDB, foi para o PR e voltou para o MDB em 2017, onde se tornou uma alternativa à disputa do governo estadual, com apoio de caciques do partido, como o atual ministro-chefe da Casa Civil, Carlos Marun, e o deputado estadual Eduardo Rocha, marido da senadora Simone Tebet (MDB). No mesmo ano, Waldeli foi condecorado por Rocha, na Assembleia, com a Comenda do Mérito Legislativo.

Waldeli com o deputado Eduardo Rocha e a senadora Simone Tebet. (Foto: Facebook)

Mas sua candidatura acabou não vingando. O MDB escolheu o deputado Mochi Júnior, deixando para Waldeli a coordenação da campanha. Apesar dos esforços, Mochi não passou para o segundo turno, disputado entre Reinaldo Azambuja (PSDB) e o juiz Odilon de Oliveira (PDT). Reeleito, Azambuja motivará um texto específico na série De Olho no Mato Grosso do Sul.

Em suas propagandas, Waldeli faz questão de dizer que é um exemplo de gestão e que Costa Rica está entre os 13 municípios do Brasil que melhor cumpriram, em 2016, as exigências da Lei da Responsabilidade Fiscal. Há controvérsias. Em 2012, segundo reportagem no portal Hora da Notícia, houve favorecimento econômico durante sua gestão. A empresa Trans Paraná, pertencente aos filhos de Waldeli, Marcos Vinicius Frezarin Rosa e Elizandra Thais Frezarin Rosa, detinha o contrato para o transporte coletivo do município.

As ligações econômicas e políticas de Waldeli também passam pelo seu estado de origem, o Paraná. Uma das fazendas declaradas pelo prefeito em 2016 foi comprada do deputado federal e atual Chefe da Casa Civil do governo do Paraná, Dilceu Sperafico (PP), mais um dono de propriedades rurais no Mato Grosso do Sul, onde planta soja.

Foto em destaque: Costa Rica em Foco