Empresário chegou a ter as maiores cotas, após a família Saad, amiga de Fernando Henrique; pecuarista tem seus leilões divulgados pela emissora, que teve grupo português como sócio
Por Alceu Luís Castilho
Durante as comemorações dos 80 anos de Fernando Henrique Cardoso, em 2011, passaram pela Sala São Paulo o amigo Jovelino Mineiro e o empreiteiro Marcelo Odebrecht, Horácio Lafer Piva e Clóvis Carvalho, entre tantos outros personagens desta série de reportagens. Ali também esteve Johnny Saad, um dos donos da Band. Qual a relação entre FHC, a agropecuária e os donos dos meios de comunicação?
De Olho nos Ruralistas – que está produzindo um livro sobre imprensa e questão agrária, com lançamento previsto para 2019 – mostra também que o canal Terra Viva, emissora especializada em agronegócio controlada pela Band, teve como sócios o pecuarista Jovelino Mineiro e os portugueses do grupo Espírito Santo – agora falido.
Um dos principais comentaristas do Terra Viva é o agrônomo Xico Graziano, diretor executivo do Observatório Político, uma plataforma de divulgação do pensamento de Fernando Henrique. Um dos entrevistados mais recorrentes do canal é Jovelino Mineiro, conhecido por FHC como Nê.
No dia 09 de abril, ele divulgou no canal da Band o leilão de gado da sua Fazenda Sant’Anna.
Esta é uma das duas reportagens sobre imprensa, na série de 27 textos sobre Fernando Henrique Cardoso. A relação entre a família Abreu Sodré – da mulher de Jovelino, Maria do Carmo Abreu Sodré Mineiro – e a família Civita, dona da Abril, pode ser conferida aqui: “FHC, o Fazendeiro – Imprensa: cunhada de Jovelino Mineiro é casada com Richard Civita”.
JOHNNY E FHC VENDERAM TOUROS EM RANCHARIA
Quando morreu o pai de João Carlos (Johnny) Saad em 1999, o fundador da emissora João Jorge Saad, Fernando Henrique Cardoso deu seu depoimento: “João Saad foi uma pessoa que fez um trabalho importante em São Paulo, sobretudo com relação a mim, numa relação pessoal e muito forte, muito grande”.
No ano seguinte, em junho de 2000, o então presidente da República vendia touros Brangus em Rancharia (SP), na Fazenda Sant’Anna, de Jovelino Mineiro. Conheça melhor essa história: “FHC, o Fazendeiro – Vinte anos atrás, Fernando Henrique vendia touros em Rancharia (SP), na fazenda de Jovelino Mineiro”. Os touros tinham sido produzidos em parceria com a Central Bela Vista, empresa do pecuarista em Botucatu (SP).
Entre os outros expositores desse leilão estava Johnny Saad, criador de gado na Fazenda Ponte Nova, em São Luís do Paraitinga (SP) – onde ele registra uma de suas empresas, a Omahaus Produções. A fazenda é vizinha de uma das propriedades da Suzano Papel e Celulose.
Saad também é amigo de Jovelino Mineiro, a eminência agrária de Fernando Henrique Cardoso. Em perfil do pecuarista publicado em 2014 pelo Valor, Johnny Saad avaliou-o da seguinte forma: “Ele não gosta do palco. Ele trabalha muito bem no bastidor”.
FHC OUVIU DONOS DA MÍDIA SOBRE SÉRGIO MOTTA
Os touros de Fernando Henrique vendidos em Rancharia tinham sido produzidos na Fazenda Córrego da Ponte, em Buritis (MG), até 1998 uma sociedade com o ministro das Comunicações de seu primeiro governo, Sérgio Motta. Depois a fazenda passou para o nome de Jovelino Mineiro e das filhas de FHC, Beatriz e Luciana Cardoso.
Em dezembro de 1994, como mostra no início de seu “Diários da Presidência”, Fernando Henrique conta que, antes de escolher Motta como ministro, teve contato em Brasília “tanto com a Globo quanto com os principais chefes de comunicação do Brasil:
– O Roberto Civita veio aqui, o Roberto Irineu, mais o João Roberto, o Zé Roberto, todos falaram comigo esse tempo todo, falei com o pessoal da Bandeirantes.
Mas nenhum deles, garante o ex-presidente, influenciou sua decisão. “Roberto Marinho está pensando em outras coisas, não no ministério”.
JOVELINO DIVULGA LEILÕES NO TERRA VIVA
Jovelino Mineiro e Johnny Saad foram fundadores, em 2005, do Terra Viva, canal de defesa do agronegócio em São Paulo ligado à Band e transmitido também pelo UOL. O pecuarista já foi entrevistado muitas vezes pelo programa. Por exemplo, para divulgar os eventos em Rancharia. Vários leilões na Fazenda Sant’Anna – aqueles com FHC foram anteriores à criação da emissora – foram transmitidos pelo canal. Por exemplo, em 2009, 2012, 2013, 2014, 2016 e 2017.
O filho Bento Mineiro, da Sociedade Rural Brasileira, que cresceu visitando o Palácio da Alvorada, também ganha espaço no Terra Viva. Saiba mais sobre a relação entre a Rural e a Fundação Fernando Henrique Cardoso aqui: “FHC, o Fazendeiro – Fundação FHC fica no mesmo prédio – e não por acaso – que a Sociedade Rural Brasileira”.
Em abril, seminário sobre agronegócio realizado pela Fundação FHC também foi divulgado pelo canal da Band, nesta reportagem: “Agronegócio brasileiro conquista posição de destaque mundialmente”. O pecuarista Pedro de Camargo Neto, da Rural, foi um dos debatedores. Ele foi secretário de Produção e Comercialização do Ministério da Agricultura entre 2001 e 2002, durante o governo Fernando Henrique.
CANAL TEVE PECUARISTAS COMO SÓCIOS
O nome jurídico do Terra Viva é Companhia Rio Bonito Comunicações, criada em 2003, que já teve Saad como presidente e Jovelino como diretor. Em 2012, o pecuarista ainda era um dos principais acionistas, com 27,75% das ações, por meio da Ouro Preto Participações. É a mesma empresa por meio da qual ele é sócio de Emílio Odebrecht na Recepta Biopharma: “FHC, o Fazendeiro – Sócios em empresa, Emílio Odebrecht e Jovelino Mineiro já foram representados em assembleia pelo advogado de FHC”.
Os outros acionistas no fim de 2012 eram a Newco (Band), com 32,25%, Esap Brasil Agro-Pecuária (da família Espírito Santo), com 10%, Pecuária Damha Ltda (de Anwar Damha), com 10%, W/Realty Assessoria e Serviços Empresariais (do empresário Washington Cinel), com 10%, e OS Assessoria e Planejamento Empresarial (de José Carlos Bumlai), com 10%. Todos, exceto a Band, abandonaram a sociedade em 2015.
Mais conhecido como “amigo de Lula”, José Carlos Bumlai esteve preso entre 2016 e 2017, condenado pelo juiz Sérgio Moro na Operação Lava-Jato. Confira mais informações sobre o grupo português Espírito Santo, em sua relação com o antigo sócio Jovelino Mineiro – numa empresa em Botucatu (SP) – e com Fernando Henrique Cardoso: “FHC, o Fazendeiro – Antes de falir, Grupo Espírito Santo aliou-se a Jovelino Mineiro em Botucatu”.
XICO GRAZIANO E OS ‘IDEAIS DE FHC’
Um dos comentaristas do Terra Viva, o tucano Xico Graziano, é uma das principais vozes midiáticas em defesa do agronegócio. Ele é o diretor-executivo do Observador Político, uma organização criada com base nos “ideais de Fernando Henrique Cardoso”, para divulgação do pensamento do ex-presidente.
O agrônomo Graziano presidiu o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em 1995, no primeiro mandato de Fernando Henrique, e foi secretário de Estado da Agricultura (governo Covas) e do Meio Ambiente (governo Serra). Ele coordenou as redes sociais durante a campanha do tucano Aécio Neves à Presidência da República, em 2014.
Xico Graziano é pai de Daniel Graziano, gerente administrativo, financeiro e de recursos humanos na Fundação FHC. Daniel ficou conhecido em 2014, acusado de espalhar boatos contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. É que um internauta tinha postado o boato no site do Observador Político. “Não foi ele que fez, não postou nada, não fez nada, não virou processo”, contou Xico, em 2015, à Agência Pública.
AFINIDADES SÃO TAMBÉM CULTURAIS
Um dos proprietários da Band, Paulo Saad Jafet – primo de João Carlos Saad – é um dos 63 patronos do Museu de Arte de São Paulo (Masp), assim como o advogado de FHC, José de Oliveira Costa – também membro do Conselho Deiberativo. Entre os 42 associados do museu, juridicamente uma associação privada fundada em 1971, estão Jovelino Mineiro e Emílio Odebrecht.
A teia de relações culturais entre a família Cardoso, membros da Fundação FHC e empresários do agronegócio pode ser conferida aqui: “FHC, o Fazendeiro – Emílio Odebrecht, Jovelino Mineiro e advogado de FHC compõem a direção do Masp”.
LEIA A SÉRIE COMPLETA:
“FHC, o Fazendeiro – tudo sobre as terras da família, os amigos pecuaristas e a Odebrecht”.