Dinastias políticas potiguares se perpetuam no estado e no Planalto

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Ao longo de cinco anos, De Olho nos Ruralistas mostrou os três clãs que controlam o poder no Rio Grande do Norte; em destaque, a face ruralista do ministro das Comunicações, Fábio Faria, genro de Silvio Santos; latifundiários são também coronéis midiáticos

Por Nanci Pittelkow

Os Rosado estão com o presidente Jair Bolsonaro e o ministro das Comunicações, Fábio Faria. Os Maia, que estão entre partidos aliados do governo federal, hesitam em apoiar o presidente por causa de uma aliança com a governadora Fátima Bezerra (PT). Os Alves votam com o governo federal, mas se encontram com o petista Luiz Inácio Lula da Silva. Mais uma vez, a política potiguar gira em torno das grandes famílias e seu vai-e-vem de alianças de interesses circunstanciais, como o De Olho nos Ruralistas mostrou nas eleições de 2018: “No RN, bancada ruralista tenta se ‘renovar’ a partir das mesmas três famílias”.

O Rio Grande do Norte é mais um dos estados retratados na retrospectiva em comemoração aos cinco anos do De Olho nos Ruralistas. O Rio Grande do Sul foi o primeiro do conjunto de reportagens, que seguiu pelo Sudeste e continua pela região Nordeste.

Dos oito deputados federais do Rio Grande do Norte em 2018, quatro eram membros da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA). Dois deles tentaram o Senado e dois a reeleição na Câmara. Três foram eleitos: os deputados Beto Rosado (PP) e Walter Alves (MDB) e a senadora Zenaide Maia (Pros). João Maia (PL), candidato derrotado a vice-governador em 2014 pela chapa de Henrique Alves (MDB), voltou à Câmara. No vai-e-vem das cadeiras, a FPA recebeu o reforço do deputado licenciado e ministro das Comunicações, Fábio Faria.

Faria pode ampliar sua aliança, já que pretende deixar o PSD e ir para o PP, comandado no estado por Beto Rosado e um dos partidos em que Bolsonaro pode entrar. João Maia, presidente do PL potiguar, não se compromete com a aliança, embora o chefe de seu partido, Valdemar Costa Neto, tenha colocado a legenda à disposição de Bolsonaro. A bancada estadual do PL no estado apoia Fátima Bezerra. Nesse jogo, o deputado Walter Alves (MDB), que vota com Bolsonaro em pautas caras ao governo como a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) dos Precatórios, também se aproxima de Lula.

MINISTRO E GENRO DE SILVIO SANTOS ADMINISTRA RÁDIO NO INTERIOR

Os Rosado não começaram como fazendeiros, mas com a ascensão política e econômica da família as propriedades rurais foram surgindo. O clã começou com Jerônimo Ribeiro Rosado, um farmacêutico paraibano que teve 21 filhos. Betinho Rosado, filho de Dix-Sept (o décimo sétimo de Jerônimo), lançou seu filho Beto Rosado Segundo (PP), que foi eleito. Betinho pai tem 685 hectares em fazenda no município vizinho de Mossoró, cidade de domínio da família.

João Maia tem declarado apenas alguns hectares de terras na sua prestação de contas de 2018 ao Tribunal Superior Eleitoral e uma fortuna de R$ 2, 5 milhões, muito menor que os R$ 14,1 milhões que declarou em 2010. Em 2009, seu irmão Agaciel Maia, ex-diretor-geral do Senado, foi pego pelo Fisco por causa de uma casa de R$ 5 milhões, que estava no nome de João. Mais recentemente ele foi acusado de receber R$ 2 milhões em propinas por obras do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit).

Bolsonaro, o ministro Fábio Faria e seu sogro Silvio Santos. (Foto: Reprodução)

Da família Alves, Garibaldi Alves Filho (MDB) é primo de Henrique Eduardo Alves (MDB), ex-presidente da Câmara que está sendo processado no âmbito da Operação Lava Jato. O ex-senador não se reelegeu, mas seu filho Walter Alves Filho (MDB) foi eleito. Os candidatos da família Alves não declararam bens rurais, embora Garibaldi tenha pertencido à FPA e Walter a integre atualmente. O principal ramo do clã é a comunicação: os Alves têm participações em rádio, televisão e são proprietários do jornal Tribuna do Norte.

Ministro das Comunicações desde junho de 2020, Fábio Salustino Mesquita de Faria tinha 20 anos quando foi fundada a Agreste Comunicações Ltda, em Nova Cruz (RN). A empresa tem como sócio-administrador o ex-governador Robinson Faria, pai do ministro, igualmente do PSD. Alguns anos mais tarde, em 2007, Fábio Faria seria eleito pela primeira vez deputado federal. De Olho nos Ruralistas trouxe o perfil agrário do ministro e seu histórico ascendente de bens.

Seu sogro, Silvio Santos, dono do SBT e apoiador do governo Bolsonaro, já foi dono de vastas extensões de terras no Mato Grosso durante o regime militar. Seu pai, o ex-governador Robinson Faria, foi derrotado nas eleições de 2018 e declarou possuir catorze propriedades rurais. O patrimônio de Robinson em 1998, que era de R$ 697 mil, deu um salto significativo, para R$ 10,59 milhões. O patrimônio de Fábio Faria foi multiplicado de R$ 260 mil, em 2006, quando concorreu pela primeira vez a deputado federal, até os R$ 6,5 milhões da última reeleição, em 2018.

PRODUÇÃO DE MELÕES PODE AFETAR SOBREVIVÊNCIA DE ABELHAS

O Rio Grande do Norte se destaca na fruticultura irrigada, especialmente o município de Mossoró, com a produção de melões. Em 2021 prevê-se a colheita de 350 mil toneladas da fruta, sendo 85% da produção destinada ao mercado externo. O cultivo de melão pode ser prejudicial às abelhas por causa do uso de agrotóxicos, detalhou o geneticista e professor aposentado da Universidade de São Paulo (USP) Lionel Segui Gonçalves, em entrevista ao De Olho.

Melões de Mossoró (Foto: Wilson Moreno/PMM)

Segundo o pesquisador, diversas agressões ao ambiente estão relacionadas à chamada Colony Colapse Disorder (CDC), algo como Transtorno do Colapso das Colônias: desmatamentos, variações climáticas e agentes patogênicos (vírus, bactérias, ácaros), entre outros. Mas o uso dos pesticidas é o principal causador da CDC. Os agrotóxicos que possuem nicotina em suas fórmulas bloqueiam as comunicações entre as células do sistema nervoso dos insetos, as sinapses, e as abelhas “esquecem” o caminho da colmeia e se perdem.

Outra questão importante é a desvalorização dos apicultores que fornecem as colmeias para a polinização de alimentos no Brasil. No Rio Grande do Norte os produtores de melão pagam valores irrisórios aos apicultores, além de colocarem as abelhas em risco. Segundo Gonçalves, a polinização da flor do melão é altamente dependente das abelhas, mas o uso de muitos agrotóxicos no cultivo provoca a perda dos insetos.

EM CINCO ANOS, OBSERVATÓRIO EXPÕE OS DONOS DO BRASIL

A comemoração dos cinco anos do De Olho nos Ruralistas tem várias peças de divulgação, visando a obtenção de 500 assinaturas, por um lado, e levar as informações a um público mais amplo, por outro. É urgente a necessidade de o país conhecer melhor o poder dos ruralistas e de formar no Congresso uma bancada socioambiental, um conjunto de parlamentares que defendam direitos elementares, previstos na Constituição e nos pactos civilizatórios internacionais dos quais o Brasil é signatário.

Assista ao vídeo do aniversário:

No dia 14 de setembro, inauguramos a versão audiovisual da editoria De Olho na Resistência, que divulga informações sobre as iniciativas dos povos do campo e as alternativas propostas para o ambiente e a alimentação saudável. Você pode apoiar o observatório aqui.

Nanci Pittelkow é jornalista. |

Imagem principal (De Olho nos Ruralistas/Facebook): oligarquias potiguares se revezam em alianças locais e nacionais

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