Lar da bancada ruralista, Distrito Federal também é palco de conflitos agrários

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Os bastidores da Frente Parlamentar da Agropecuária foram centrais nos cinco anos do De Olho nos Ruralistas; observatório também cobriu a expansão agropecuária no DF e, em 2022, terá repórter especializada em Brasília para cobertura de Congresso

Por Bruno Stankevicius Bassi

O Distrito Federal não se resume aos corredores do Congresso. Para além dos salões de Brasília — e da mansão no Lago Sul onde o lobby do agronegócio decide os rumos do país —, a unidade federativa tem uma faceta agrária, que vai da resistência quilombola contra um prefeito-fazendeiro às terras da família Roriz.

O Distrito Federal é a segunda unidade federativa do Centro-Oeste na retrospectiva de cinco anos do De Olho nos Ruralistas, seguindo Goiás. Ela será encerrada com Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Os primeiros estados foram os do Sul, um dos principais berços ruralistas: Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.

Depois foi a vez do Sudeste, pela ordem: São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo. Dos nove estados nordestinos: Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do NorteCeará , Piauí e Maranhão. E do Norte: Pará AmapáAmazonas, Roraima, Acre, Rondônia e Tocantins.

EXPULSÃO DE MANSÃO EM BRASÍLIA FOI MARCO DO OBSERVATÓRIO

De Olho nos Ruralistas foi o primeiro veículo da imprensa independente a revelar as entranhas da bancada ruralista. Em 2016, assinamos nosso primeiro projeto audiovisual, que resultou na produção do documentário “Sem Clima – uma República controlada pelo agronegócio“, lançado em março do ano seguinte. Durante as gravações, a equipe do observatório foi expulsa da sede da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) por representantes de entidades do agronegócio: “Almoço da bancada ruralista tem ira de deputados e expulsão de repórteres“.

Em 2017, equipe do De Olho nos Ruralistas foi expulsa por funcionários do IPA em evento da FPA. (Foto: Reprodução)

A truculência dos lobistas inspirou nossa equipe a ir além e lançar, em 2019, um dos trabalhos mais relevantes da história do observatório: “Multinacionais são financiadoras ocultas da Frente Parlamentar da Agropecuária“. O mapeamento inédito da cadeia de financiamento do Instituto Pensar Agro (IPA), think tank responsável por manter as atividades parlamentares da bancada ruralista, é frequentemente referenciado em trabalhos acadêmicos, campanhas e programas televisivos, como o Greg News.

Nesse ínterim, mostramos o crescente poderio da FPA em votações importantes no Congresso, como na manutenção de Michel Temer na presidência, na reforma da Previdência ou, mais recentemente, da Lei de Diretrizes Orçamentarias (LDO) para 2022. Além disso, cobrimos com exclusividade o surgimento da aliança entre FPA e Jair Bolsonaro, ainda no primeiro turno de 2018.

Desde 2019, Brasília é também uma das bases de operação do De Olho nos Ruralistas. Inicialmente com uma presença institucional, a partir de 2022, teremos uma cobertura diária do Congresso, a cargo da repórter Mariana Franco Ramos, que cobrirá in loco as movimentações dos ruralistas com vistas às eleições de outubro.

NO LADO RURAL DA REGIÃO, CONFLITOS E RESISTÊNCIA

Além da cobertura política, nestes cinco anos o De Olho nos Ruralistas também contou histórias de luta e resistência dos povos do campo — camponeses, quilombolas e indígenas — no Distrito Federal.

Diversas placas com a palavra “quilombo” foram destruídas. (Imagem: Reprodução)

Um caso emblemático é o do Quilombo Mesquita que, há décadas, reivindica seu reconhecimento como território tradicional, engolfado pelo crescimento do município de Cidade Ocidental (GO), na divisa com o DF. O principal empecilho à titulação é o prefeito Fábio Correia, abertamente contrário ao quilombo e dono de uma fazenda de 45 hectares no centro do Mesquita: “Prefeito com fazenda no quilombo Mesquita, na divisa com Brasília, se reelege em Cidade Ocidental (GO)“.

Outro político que protagonizou disputas por terras na região é o ex-governador Joaquim Roriz. Em 2012, o livro “Partido da Terra – como os políticos conquistam o território brasileiro” (Contexto, 2012) fez um levantamento dos políticos, eleitos nos anos anteriores, que mais tinham gado no país. Incluindo prefeitos e vice-prefeitos, deputados estaduais e federais, senadores, suplentes, governadores.

Roriz apareceu em 12º lugar, com 6.227 reses declaradas em 2006, no valor de R$ 2,85 milhões. Quatro anos depois, candidato ao governo, Roriz já tinha 6.717 reses. O mesmo número foi declarado por sua mulher Weslian, em 2018, quando disputou a suplência no Senado. Mas em valor bem maior: R$ 4,13 milhões. Relembre aqui.

O livro do jornalista Alceu Luís Castilho seria um dos catalisadores para o surgimento do De Olho nos Ruralistas, quatro anos depois.

EM CINCO ANOS, OBSERVATÓRIO EXPÕE OS DONOS DO BRASIL

A comemoração dos cinco anos do De Olho nos Ruralistas traz ainda várias peças de divulgação, visando a obtenção de mais 500 assinaturas, por um lado, e levar as informações a um público mais amplo, por outro. É urgente a necessidade de o país conhecer melhor o poder dos ruralistas e de formar no Congresso uma bancada socioambiental, um conjunto de parlamentares que defendam direitos elementares, previstos na Constituição e nos pactos civilizatórios internacionais dos quais o Brasil é signatário.

Assista ao vídeo do aniversário:

No dia 14 de setembro, inauguramos a versão audiovisual da editoria De Olho na Resistência, que divulga informações sobre as iniciativas dos povos do campo e as alternativas propostas para o ambiente e a alimentação saudável. Você pode apoiar o observatório aqui.

Bruno Stankevicius Bassi é repórter e coordenador de projetos do De Olho nos Ruralistas. |

Imagem principal (Reprodução): prefeito de Cidade Ocidental (GO) disputa terras com quilombolas no DF.

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